Nosso país em estado de guerra

OPINIÃO - Afanasio Jazadji*
22/04/2004 15:26

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Os traficantes tomam conta da Favela da Rocinha e a população do Rio volta a ser vítima de balas perdidas. Em São Paulo, uma jovem de 24 anos e sua filha de apenas 3 anos são afinal libertadas, após 64 dias em poder dos seqüestradores, que receberam o resgate da família. Ladrões atacam o Pavilhão Oca, do Ibirapuera, em que são exibidas obras do espanhol Pablo Picasso, um dos maiores pintores de todos os tempos.

Este é o panorama real do Brasil, um país em verdadeiro estado de guerra. Não se trata de ilusão ou de intriga: as cenas de guerra das favelas cariocas foram mostradas ao mundo inteiro por meio de redes de TV, como a CNN, dos Estados Unidos, a BBC, da Inglaterra, e a Deutsche Welle, da Alemanha.

De repente, o alegre Brasil, do samba e do futebol, passou a estampar sua violência na mídia internacional, dividindo espaço com outra guerra sem solução, a do Iraque. Numa época em que o País convive com o mais elevado índice de desemprego nos últimos tempos, essas notícias concretas sobre a criminalidade agravam a situação.

Em recente estudo da consultoria americana Mercer Human Resource sobre a qualidade de vida em 215 cidades do mundo, São Paulo aparece num lamentável 107.º lugar. O Rio de Janeiro, de tantas belezas, despencou do 108.º lugar para o 118.º, por conta principalmente da falta de segurança nas ruas. Com números desse tipo, fica difícil o Brasil atrair turistas estrangeiros, que trariam dólares. Medo da população, medo dos turistas. Por que não combater o crime?

Autoridades federais, estaduais e municipais alegam que esgotaram suas fórmulas para combater ladrões, assaltantes, traficantes, seqüestradores e assassinos que engrossam as estatísticas da violência nas principais metrópoles do Brasil. Um dos argumentos é o de que as cadeias estão lotadas e, mesmo assim, continuam ocorrendo inúmeros crimes em São Paulo, no Rio e em outras cidades.

Portanto, em princípio, o País estaria sofrendo de uma doença incurável, como um terrível tipo de câncer que acaba com as vidas. No entanto, embora a violência seja um mal do mundo moderno, que ataca outros países, é preciso discutir atitudes capazes de restituir aos brasileiros a idéia de que podemos trabalhar, passear e dormir em paz.

No campo da violência e da criminalidade, nada ocorre por acaso. E a solução não aparece por simples milagre. O grande problema de São Paulo e do Rio é que tivemos governos demagógicos que deixaram de atacar a essência do crime, permitindo que as quadrilhas se armassem e prosperassem de modo incrível.

De repente, o Brasil ficou refém de Fernandinho Beira-Mar, o traficante de drogas que, após comandar o ataque a vários pontos do Rio diretamente de sua cela no Presídio Bangu 1, acabou sendo transferido para uma cadeia de segurança máxima do Estado de São Paulo. O estilo Beira-Mar, da constante impunidade, continua em vigor, tanto nos confrontos da Rocinha quanto nos seqüestros de São Paulo. Enquanto isso, só se ouve blá-blá-blá.

*Afanasio Jazadji é deputado estadual pelo Partido da Frente Liberal

alesp