Médico denuncia caso de morte por problemas no CHS

Denúncia do médico Saul Gun foi levada por Crespo ao MP, CRM, Alesp e ao próprio governador
19/04/2002 17:30

Compartilhar:


DA ASSESSORIA

O deputado estadual Caldini Crespo (PFL) recebeu esta semana, em seu escritório, uma carta assinada pelo médico urologista Saul Gun, titular do Departamento de Cirurgia e coordenador da disciplina de urologia do Centro de Ciências Médicas da PUC-SP, denunciando as condições a que estão sendo submetidos médicos que trabalham no Conjunto Hospitalar de Sorocaba e pacientes atendidos naquele complexo hospitalar. Na carta encaminhada ao deputado Crespo, o médico relata o caso de uma paciente que faleceu "por falta de um mísero e simples exame tomográfico para que pudéssemos intervir cirurgicamente, o que talvez evitasse essa morte desnecessária", escreve o médico.

Diante da gravidade da denúncia, o deputado Crespo - que é vice-presidente da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, e membro da Comissão de Representação criada para apurar problemas e irregularidades no CHS - decidiu encaminhar cópias da carta do médico ao Ministério Público Federal, ao Ministério Público Estadual, ao secretário estadual da Saúde, José da Silva Guedes, ao Conselho Regional de Medicina (CRM), à Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa e a todos os parlamentares que integram a Comissão de Representação que investiga os problemas do CHS. Durante audiência com o governador Geraldo Alckmin ocorrida no final da tarde desta quinta-feira 18/4, Crespo entregou-lhe em mãos uma cópia da carta do urologista.

Após ler a correspondência, Crespo classificou seu conteúdo como "pavoroso". O doutor Saul Gun inicia a carta esclarecendo não ser funcionário do Estado. "Trabalho no CHS como docente da PUC na Disciplina de Urologia, por força de convênio" celebrado entre o Estado e a PUC.

Paciente morre

No relato sobre o caso que culminou com a morte de Wilma Vieira, de 35 anos, o médico destaca que, no último dia 9/4, a paciente chegou ao pronto-socorro do CHS vinda de uma cidade próxima, "em mau estado geral, trazendo consigo um exame ultra-sonográfico abdominal onde se via uma massa renal aumentada no lado E (esquerdo)". Destaca o doutor Saul que o médico que encaminhou a paciente ao CHS telefonou para os residentes da Urologia avisando que o procedimento havia sido adotado em virtude de não haver condições para resolvê-lo no município de origem.

Ao chegar ao pronto-socorro do CHS, descreve o médico, "os residentes da Urologia examinaram-na e relataram o caso ao docente de plantão." Houve a imediata indicação da necessidade de realização de uma tomografia computadorizada abdominal na paciente. "O pedido desse exame foi encaminhado à Assessoria da Diretoria (isto vem sendo feito porque o tomógrafo do CHS está sem funcionar há tempos)" escreve o doutor Saul Gun em sua carta. Segundo o médico, o responsável pela marcação da tomografia, que recebeu o pedido em 9/4, marcou sua realização somente para o dia 10/5 (31 dias após o pedido), embora soubesse que o caso era grave e urgente.

"A paciente, sem diagnóstico preciso, deixou-nos de braços amarrados, ficando os residentes a realizar somente exames subsidiários corriqueiros e com medicação de apoio. A doente teve seu quadro clínico intensamente agravado vindo a falecer no dia 12/4. Vimos a paciente morrer por falta de um mísero e simples exame tomográfico, para que pudéssemos intervir cirurgicamente, o que talvez evitasse essa morte desnecessária", relata o médico.

Outros problemas

No material entregue ao deputado Caldini Crespo, o médico Saul Gun aponta também a existência de outros problemas no funcionamento do CHS. A falta de instrumentos cirúrgicos endoscópicos para urologia é um deles. O médico lembra ter feito essa denúncia publicamente durante mesa-redonda promovida no final do ano passado pela Comissão de Representação com a direção do CHS. "O diretor do CHS afirmou que esse material seria rápida e prontamente providenciado, mas não o foi", afirma. Diz também que as cirurgias endourológicas dos rins e do ureter nunca são feitas por absoluta falta de material apropriado. Segundo o doutor Saul, essas cirurgias são feitas "apenas como demonstração para os residentes da Urologia e para os internos do curso de gradução". E, nesses casos, o material utilizado é do próprio médico.

No caso dos exames nucleares, apesar de reconhecer a qualidade dos equipamentos existentes no CHS, o médico Saul Gun diz que eles "não estão operantes há mais ou menos um ano, sendo os pacientes encaminhados para São Paulo", no Hospital da Beneficência Portuguesa.

Comissão

Em razão da gravidade da denúncia apresentada na carta do urologista Gun, na quinta-feira, 18/4, o deputado Crespo encaminhou cópias aos demais membros da Comissão de Representação criada pela Assembléia para apurar problemas e irregularidades no CHS, convidando-os e aos outros deputados que a integram para uma reunião na próxima terça-feira, 23/4, na sala da 1ª Secretaria da Assembléia Legislativa, com horário de início previsto para as 10 h e término às 12 h. Crespo também informou os demais membros de que havia tomado a iniciativa de encaminhar o material para os representantes dos Ministérios Públicos Federal e Estadual.

Fazem parte da Comissão de Representação da Assembléia Legislativa os deputados: Caldini Crespo (PFL), Hamilton Pereira (PT), Jamil Murad (PCdoB), Luiz Gonzaga Vieira (PSDB), Maria do Carmo Piunti (PSDB), Roberto Gouveia (PT) e Terezinha da Paulina (PFL).

alesp