Discurso de posse de Walter Feldman propõe pacto de gestão com a sociedade

Novo presidente quer Assembléia como ponto de referência para Câmaras Municipais e demais Casas Legislativas do país
16/03/2001 21:37

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Em seu discurso de posse como presidente da Assembléia Legislativa para o biênio 2001/2003, o deputado Walter Feldman disse estar diante de uma "tarefa que envolve poder e responsabilidade"...Eis a íntegra do pronunciamento:

Segundo um provérbio persa, "quanto mais fraco o argumento, tanto mais fortes e longas as palavras".

Hierarquizar o que pretendo exprimir parece-me um desafio.

Considero que este parlamento, tal qual um organismo humano, também se divide em três partes, senão iguais, interdependentes.

Assim, agradecer aos 93 deputados que aqui estão é o meu primeiro pensamento.

O que torna divina a atividade político-parlamentar é o seu caráter de representação.

Todos que aqui estamos temos o compromisso nobre de falar e agir em nome de milhares de cidadãos.

Com esta eleição aqui hoje realizada, nós, da nova Mesa Diretora, acumulamos também agora a representação de cada deputado.

Receber ou não o voto para ocupar esta presidência é o acessório. O principal está na delegação adicional de representação.

Agradecer aos últimos três presidentes é mais que dar-lhes o devido valor.

É resgatar uma história que faz desta Assembléia Legislativa um paradigma do Poder Legislativo no nível nacional.

Se pudesse resumir, diria que o deputado Ricardo Trípoli iniciou a reconstrução interna da Assembléia Legislativa, preparando-a estruturalmente para o seu novo papel.

O deputado Paulo Kobayashi, a seguir, pautou seus esforços na sedimentação das condições dignas do exercício dos mandatos de cada parlamentar.

O deputado Vanderley Macris, que hoje deixa esta presidência, colocou a Assembléia Legislativa para além de suas fronteiras. Criou novos e ampliou espaços de comunicação com a sociedade, culminando com a criação do Índice Paulista de Responsabilidade Social.

E o que dizer para os 3000 funcionários que aqui trabalham? Em primeiro lugar, que sou um ardente defensor de uma política de recursos humanos que jamais perca de vista que, antes de servidores, temos aqui pessoas - com suas histórias e seus valores.

Em segundo lugar, que a valorização do serviço público é parte do ideário programático do PSDB e como tal, o equilíbrio entre direitos e deveres, eficiência profissional e valorização, modernização tecnológica e compromissos éticos com a sociedade farão parte da nossa agenda comum.

Assim, tomar posse à frente de um parlamento é tarefa que envolve poder e responsabilidade - binômio difícil de equacionar.

Se a ele acrescentamos a vaidade humana, e a importância deste parlamento, só temos uma saída: a busca do processo equilibrado de responsabilidade coletiva.

O equilíbrio entre instituição e sociedade, contestação e participação, é a primeira chave do exercício do poder.

A presença responsável dos atores sociais é a segunda chave.

Entendendo que a sociedade não precisa de proteção, mas sim, de promoção, chamaremos este nosso esforço de "pacto de gestão".

A resultante terá que ser, obrigatoriamente, a cooperação entre todos os articuladores sociais.

Nestes tempos modernos, onde a pressa é a grande marca e onde a história se faz com uma rapidez quase alucinante, é preciso muito esforço para não perdermos o eixo histórico.

Este legislativo paulista, fruto de mesas diretoras sérias e comprometidas com o poder que lhes foi outorgado, reúne as condições para ser o paradigma de todo o legislativo brasileiro.

Não ter se permitido subjugar por qualquer gesto que o maculasse, lhe deu a credibilidade de que hoje desfruta.

É nossa bandeira, agora, torná-lo um centro de referência para todas as câmaras municipais do Estado de São Paulo, e demais Assembléias Legislativas do país.

Neste sentido, é preciso insistir em conceitos que nem sempre ficam claro à sociedade: neste Poder Legislativo não há golpes.

Como Casa de Leis, que prima pelo argumento como base de negociação, todos os 94 deputados têm rigorosamente o mesmo peso.

Não há desprezo por minorias partidárias ou dribles ao regimento interno como instrumentos de manobra . Exercemos aqui, a nobre arte da retórica.

Não há envolvimentos promíscuos, seja com outras esferas de poder, seja com setores da sociedade que aqui vêm tratadas as grandes questões de Estado.

Mas é preciso aqui abrir um espaço, - embora estejamos falando a parlamentares, - para render uma homenagem a alguém que, oriundo do Poder Legislativo, dignificou a política também no Poder Executivo.

Este engenheiro, construtor de valores, exerceu a política como algo sério e divino.

Sintonizado com os reais anseios da sociedade, inovou - com a parceria ativa desta Assembléia Legislativa.

O resultado de tal parceria foi o Estado de São Paulo ajustado, muito antes de se falar em responsabilidade fiscal e social.

Mas acima de tudo, as referências positivas em todas as áreas de atuação do Estado foram construídas no saudável embate das idéias e na correta inter-relação entre os poderes Executivo e Legislativo.

Tornou-se, ele próprio, uma referência nacional, supra partidária;

sua relação correta com esta instituição fica traduzida na ausência de qualquer gesto que sugerisse subjugação desta casa de leis.

Da mesma forma é preciso que se enalteça que esta Casa sempre primou pelo respeito às suas prerrogativas constitucionais.

Através de sua prática, ensinou a todos que fazem ou pretendem fazer política que não se promete na oposição o que não se sustenta na situação.

E este conceito, embora retoricamente óbvio, é das mais árduas tarefas a se cumprir. É a sabedoria de quem sempre acreditou que a política é a mais nobre das atividades e que os líderes políticos só existem para beneficiar as pessoas.

Foi ele um humanista.

Quero prestar, neste momento, a homenagem de todos nós ao governador Mário Covas.

Na continuidade dos próximos anos, haveremos de manter a mesma relação de respeito e de parceria na gestão do Estado de São Paulo, através da figura do governador Geraldo Alckmin.

Assumindo hoje esta presidência e acreditando profundamente na política como o mais poderoso instrumento de conquista da felicidade coletiva, quero saudar o governador.

Como médicos e políticos que somos, os dois, temos dentro de nós a certeza de que ambas as atividades trazem dentro delas, missões divinas de servir ao próximo.

Soberania, respeito e independência dos poderes marcarão as relações entre o Palácio Nove de Julho e o Palácio dos Bandeirantes nos próximos dois anos.

Nos anos 80 e 90 experimentamos severas e positivas pressões sobre o parlamento.

Fazia parte da nova prática da democracia, que gerações inteiras ainda não conheciam.

Hoje, os cidadãos estão mais seletivos, seja no voto, seja na fiscalização de seus representantes.

O Poder Legislativo não tem mais a característica de algo a ser protegido, como estrutura frágil e delicada.

Está consolidado como pilar da democracia.

Assumir novas demandas é a nossa obrigação.

Planificação estratégica e mudanças organizativas ajudam a tornar-nos visíveis à sociedade como seus servidores e porta vozes responsáveis e confiáveis. O clima social é favorável.

Superar divergências ideológicas, unidos pela aspiração do bem comum é outro grande desafio deste templo da palavra, que se caracteriza exatamente pela pluralidade das idéias.

Dizem que o poder corrompe.

E isto é verdade, - sempre que não nos mantivermos fieis à causa superior a que estamos servindo.

Se retomarmos a história - a mitologia - encontraremos na Grécia Antiga o mito do Minotauro.

Minos, o rei de creta - nascido de um romance entre Zeus e a princesa Europa, disputou o trono com seus 5 irmãos.

Clamando aos deuses, Minos apelou a Netuno, que lhe enviou um touro branco, como sinal divino de sua escolha.

Minos deveria sacrificar esse touro aos deuses, como prova de sua lealdade, de que seus poderes não eram apenas seus e que ele deveria usá-los com integridade.

Coroado rei, esqueceu-se da promessa. A ganância e a vaidade foram mais fortes.

Tentando enganar aos deuses, sacrificou um animal menos valioso.

Como resposta divina, sua mulher Parsifal, apaixonou-se pelo touro, gerando um filho - o Minotauro - monstro com corpo de homem e cabeça de touro.

Muito mais tarde, o jovem ateniense Teseu matou o Minotauro.

A lição que aprendemos com o poder: nossas ações têm consequências, e de todas, as mais visíveis, são as que praticamos quando detemos o poder.

Nos nossos tempos, damos pouca atenção aos mitos e por isso nos esquecemos dessa dimensão mágica e profunda .

O rei Minos nos lembra o nosso compromisso com os ideais, mesmo quando as vantagens de não cumpri-los parecem enormes.

O Minotauro nos lembra a transformação da alma humana em algo implacável e destrutivo, exatamente como quando nossa integridade é corroída pela volúpia do poder. Assim, eu me comprometo a exercer o poder com integridade.

E aqui recorro à história, lembrando o julgamento de Salomão como rei de Israel, que, durante um sonho ouviu de Deus a seguinte frase: "Pede-me o que queres que eu te darei".

E Salomão pediu: "Dá-me um coração compreensivo, para que eu saiba discernir entre o bem e o mal.

Mais tarde, sentenciou o conhecido julgamento entre as duas mulheres que disputavam o mesmo filho.

O discernimento e a humildade são virtudes muito difíceis de se atingir.

O poder , em geral, nos leva a nos desvincular de tudo que flui ao nosso redor.

Este episódio nos ensina que devemos nos lembrar, a todo momento, a quem estamos servindo nesta Casa de Leis: O poder é efêmero e só é nobre se a humildade e o desejo autêntico de servir à causa em que acreditamos, permear cada um de nossos atos.

E finalmente eu me comprometo a exercer o poder com responsabilidade.

Privilegiados que somos, nós, 94 deputados aqui presentes, por exercer nossos mandatos neste verdadeiro rito de passagem entre dois milênios, devemos estar atentos: as relações parlamentares não são físicas, nem pessoais.

Seguem, - antes - a máxima de Gandhi quando dizia "olho por olho e o mundo acabará cego".

Quero conclamar a todos:

Vamos juntos construir a ética e o parlamento do terceiro milênio!

alesp