Roberto Freire fecha acordo com PTB em São Paulo


29/10/2001 20:23

Compartilhar:


Da Redação

O senador pernambucano Roberto Freire, presidente nacional do PPS, esteve em São Paulo nesta segunda-feira, 29/10, para acertar com o PTB a coordenação da campanha de Ciro Gomes (PPS) no Estado. A coordenação deverá ser conjunta, ficando a cargo dos presidentes estaduais dos partidos, Arnaldo Jardim (PPS) e Campos Machado (PTB) e ainda das lideranças das duas bancadas, a escolha dos nomes. Freire admitiu que deverá haver a participação das bancadas federais dos dois partidos em São Paulo.

O assunto foi tratado durante almoço e as informações foram prestadas em entrevista coletiva do presidente do PPS na Sala de Imprensa da Assembléia Legislativa.

A importância de um acordo em São Paulo foi destacada por Roberto Freire, que lembrou que o Estado é responsável por 40% do PIB brasileiro e detém 25% do colégio eleitoral. "Se não tivermos São Paulo como prioridade não alcançaremos o restante do país", disse. Segundo Freire, a agenda de Ciro Gomes em São Paulo deverá contemplar os parceiros. "É necessário que a gente incorpore o PTB, até porque ele é maior que o PPS em São Paulo."

Sobre a sugestão de as oposições se unirem, o senador afirmou que só é possível se pensar em candidato único se houver um programa comum e ressaltou que o do PPS e o do PT têm diferenças "e não é só de legenda". Freire disse que Ciro tem uma proposta de formação de um fórum para se estudar um programa comum e criticou a análise feita por Lula de que se as oposições detém 70% dos votos teriam a mesma quantidade concentrada num único candidato. "Não é só somar e pronto. Essa é uma visão mecanicista", disse. E ressaltou: "Não posso ter um programa comum com alguém que vai dizer que é contra a inserção do Brasil no mercado internacional".

Freire criticou ainda a "posição mais atrasada que a do governo no que diz respeito à agricultura, quando Lula afirmou que não cabe exportar". Segundo o senador, a visão do presidente de honra do PT e pré-candidato do partido é "simplista" e o governo não fez nenhuma política de exportações.

Ciro Gomes, por sua vez, deverá, de acordo com Freire, dizer não ao protecionismo tradicional, tanto no setor agrícola quanto no industrial, com vistas ao mercado internacional. Mas não deverá concordar com a implantação da Alca em 2005. "Não se criaram as condições para a Alca em 2005. As empresas ainda não estão prontas para a competição", disse. Outra medida será acabar com as emendas individuais ao orçamento, que passaria a aceitar apenas emendas de bancada. "O governo de Fernando Henrique Cardoso se rendeu ao clientelismo."

Sobre as comparações que têm sido feitas entre Ciro e o ex-presidente Fernando Collor de Mello, Roberto Freire afirmou que se elas vierem do PT ou dos partidos de oposição ao governo, serão devidamente respondidas mas que lhes dará o "benefício da boa-fé". No caso do PSDB e de setores do governo serão consideradas de má-fé. "Eles conhecem o Ciro, foi ministro da Fazenda do governo Itamar, trabalharam juntos. Essa comparação me causa indignação. Querer compará-lo a Collor é querer desqualificá-lo. É chamá-lo de desonesto e Ciro não é. E eles sabem disso."

O senador acusou o PT e o PSDB de estarem tentando se apropriar das idéias que defende há anos. No caso do PT a admissão de que tem de negociar e de que não se pode romper contratos. Já o candidato do governo se apresentaria com um discurso de que deve haver correção de rumo na economia.

Para Freire, os principais pontos a serem tratados pelo próximo governo, no caso de Ciro Gomes ser eleito, serão: a correção de rumo na economia, a dívida interna e a distribuição de renda "que não se pode confundir com políticas compensatórias, que até podem haver".

Sobre os pontos em comum entre os discursos dos diversos candidatos, ressaltados pelo próprio senador, ele disse que acredita no discernimento do cidadão e cidadã brasileiros e destacou que o povo sabe votar e escolhe quem quer, mesmo quando depois recorre ao impeachement. "Gosto da democracia e quero a democracia. Contra Collor, que teve mais de 40 milhões de votos, eu tive cerca de um milhão. Porque o povo não queria votar num comunista." Para o senador, o que talvez seu partido precise é expor melhor seu candidato, debater mais, mostrar seu programa de campanha. E lembrou que na campanha seguinte, o eleitor votou em Fernando Henrique Cardoso. "Lamento que não escolheu o que eu achava que era melhor. Vou trabalhar mais, fazer campanha, debater."

Instado a analisar os demais candidatos, Freire chegou a questionar se a candidatura de Tasso Jereissati, governador do Ceará, pelo PSDB, é para valer "ou apenas pode ser uma tentativa do governo de complicar a campanha de Ciro", que também é cearense e foi governador do mesmo Estado. Sobre José Serra, ministro da Saúde e também pré-candidato do PSDB, Freire disse apenas que ele é paulista, o que o aproximaria do empresariado de São Paulo, mas lembrou que apesar de estar sempre na mídia o tucano não tem subido nas pesquisas de opinião.

O senador falou ainda sobre Delfim Neto, deputado federal e, segundo ele, um nome da direita que pode ser candidato, ao lado de Pratini de Moraes, ministro da Agricultura. A força que a candidatura de Roseana Sarney está tomando também foi comentada por ele que, no entanto, disse não saber se será aceita pelo empresariado paulista. "Se resolverem aceitar uma nordestina, ela será forte". A condição de nordestino de Tasso também foi lembrada.

Para o senador, até o candidato da direita poderá ter um discurso de oposição ao governo, destacando a já mencionada necessidade de mudança de rumo na economia.

A candidatura Ciro Gomes como cabeça de chapa à Presidência da República já está decidida para o PPS. Entre os nomes lembrados pelo PTB para concorrer a vice-presidente na chapa de Ciro está o de Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical e membro do partido. De acordo com Freire, o nome de Paulinho não está descartado, "o que não significa que será ele", já que o PTB de Minas Gerais está apresentando outros nomes. Sobre as denúncias feitas contra a Força Sindical, de desvio de dinheiro proveniente de contribuições dos associados, o presidente do PPS disse que não vai condenar ninguém antes do devido processo.

Perguntado se a agenda de Ciro Gomes deverá privilegiar os contatos com universidades e formadores de opinião, o senador afirmou que seu partido não tem essa visão elitista e destacou que Ciro deverá estreitar os contatos com a classe operária, também formadora de opinião. Ele destacou porém que a grande maioria da população está preocupada com seu dia a dia, dado os problemas enfrentados como a saúde "que não se tem", a escola dos filhos, e o transporte "que não chega".

Sobre um eventual apoio ao governador Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à reeleição, Freire afirmou ser ainda muito cedo. À resposta, seguiu-se uma crítica à postura do governo do PSDB em São Paulo. "Covas não fez um governo de coalizão em São Paulo. Pelo contrário, fechou-se no PSDB." Apesar disso, de acordo com o senador, há uma grande cooperação entre o PPS e o governo do Estado.

alesp