Opinião - Frente Parlamentar em defesa das Cotas sem tarja


15/04/2009 17:49

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28 de novembro de 2000. Essa data marca o nascimento das discussões sobre as chamadas cotas raciais e sociais, uma polêmica que já se arrasta por oito anos. Pela proposta atual, 50% das vagas seriam reservadas aos estudantes das escolas públicas e preenchidas, seguindo a proporção de negros, índios e pardos em cada Estado brasileiro.

A Câmara aprovou e, em decisão recente, o Senado adiou. Como deputada estadual e membro da Comissão de Educação, sinto-me no dever de expor minha opinião acerca de uma temática tão polêmica quanto necessária.

A decisão do Senado foi sábia. A sociedade, alguns governantes e universidades não estão suficientemente convencidos para enxergar que as cotas raciais não serão a solução de um traço cultural do Brasil, chamado má distribuição de renda, e se esquecem facilmente de que, antes que uma lei como essa seja aprovada, é preciso cuidar de uma semente chamada ensino fundamental e médio, que, ao longo dos anos, tornou-se criadouro de jovens sem preparação suficiente para entrar nas universidades.

Sejamos práticos. Não vejo lucidez em resolver um problema centenário, a desigualade social, criando outro, uma polêmica em torno de questões raciais num país tradicionalmente a-racista. Esta dívida vencida, o país paga por ter ignorado por décadas as condições que provocam a desigualdade.

Por que não criamos cotas nos melhores ensinos fundamental e médio do país para que os jovens possam disputar as vagas nas universidades em condições de igualdade?

Por que não criamos cursinhos gratuitos, de boa qualidade, preparatórios para vestibulares para nossos jovens carentes?

Estou à frente de inúmeras Frentes Parlamentares e, honestamente, não veria problema em encarar mais uma em prol dos mais carentes, sejam eles brancos, negros, pardos, amarelos...

No entanto, acredito, acima de tudo, num Brasil de cotas sem tarja: se houver um esforço em preparar esses meninos e meninas, ávidos em ingressar nas universidades e crescer na vida, eliminando gerações de pobreza com igualdade de oportunidades, esses jovens concorrerão às vagas de forma igualitária. O que esses jovens precisam não são favores, nem caridade, mas oportunidades e justiça social.



*Maria Lúcia Amary é deputada pelo PSDB

alesp