Distribuir e crescer

OPINIÃO - Arnaldo Jardim*
02/07/2003 16:49

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O Brasil passa por um momento delicado, em que as esperanças de uma vida melhor convive com o medo da recessão, traduzido pelo desemprego. Esta tensão ganhou as ruas, basta olhar para as pessoas que cruzam o nosso caminho. Nada mais justo, uma vez que o cenário não é dos mais animadores. A previsão do Banco Central de apenas 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto), em 2003, representa um balde de água fria no "espetáculo de crescimento" propalado pelo governo. E a nossa necessidade de crescimento é de 4% a 5% ao ano.

A bem da verdade, pouco tem sido feito para que o crescimento volte a ser mais do que um sonho para os brasileiros. O corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, em junho, é pouco diante das necessidades do país, com suas empresas garroteadas por uma política que beneficia o mercado financeiro em detrimento do setor produtivo. Esperamos, porém, que essa redução seja um primeiro passo no caminho certo.

O PPS, partido ao qual sou filiado, marcou sua posição em relação à política econômica do governo por meio do documento, "O Brasil quer mudanças reais", elaborado por seu presidente nacional Roberto Freire, criticando a orientação monetarista adotada nos primeiros cinco meses da administração Lula. O documento, que foi incluído em matéria publicada na grande imprensa, ressalta a incerteza quanto à eventual mudança de rumo do Banco Central e do Ministério da Fazenda, que mantêm a política conservadora do período Fernando Henrique, cuja resultante foi um crescimento econômico pífio, aumentando nossa vulnerabilidade externa.

Tememos que a prudência econômica demonstrada neste início de mandato seja conseqüência, na verdade, da falta de um programa de mudanças e da falta de ousadia. A nosso ver, a ousadia não significa aderir a estratégias irresponsáveis que descontrolem a inflação. Nem tampouco adotar uma posição de avestruz, de isolamento do país em relação ao mercado mundial, desprezando o capital estrangeiro. Mas é preciso ter em mente que tipo de investimento queremos: o que veio para ficar e produzir ou o do cassino da especulação internacional, que torna qualquer país extremamente vulnerável a interesses de curto prazo? Mais vale seguir o exemplo do Chile, da China, da Índia e o de alguns "tigres asiáticos", que aprenderam a se precaver contra a volatilidade dos chamados mercados mundiais.

Penalizado por juros dos mais altos do mundo, o setor produtivo brasileiro amarga queda de cerca de 60% na oferta de crédito, em meio a dívidas e demissões. Uma nova política de juros no país poderia mudar esse quadro, a começar pelo fim da distorção técnica provocada pelo expurgo dos efeitos sazonais na base de cálculo da inflação pelo Banco Central. É preciso criar condições para que quem produz volte a investir, pondo um fim nessa sucessão de "décadas perdidas", iniciada nos anos 80.

O Brasil tem uma grande dívida social de 500 anos a resgatar, o que não será feito em poucos anos. No entanto, é preciso começar o mais rápido possível, para que o crescimento econômico não beneficie apenas os mesmos, mas seja compartilhado por todos.



*Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro civil, 48

Líder da Bancada do PPS E-mail: arnaldojardim@uol.com.br

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