Opinião - Combate ao bullying nas escolas


20/04/2011 13:35

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Nesta semana, a revista Veja publicou uma reportagem sobre os casos de bullying. A capa: "Abaixo a Tirania dos Valentões " Por que as escolas não podem mais fingir que o bullying é problema só dos alunos e seus pais". São histórias de pessoas humilhadas e que muitas vezes sofreram violência verbal e física vinda de colegas de suas escolas. Em uma das entrevistas, L.B., nome fictício, de 15 anos, disse que, quando entrou na adolescência, sua face direita começou a sofrer uma deformação, isso por causa de uma doença congênita. Ela passou a ser motivo de piadas e humilhações. Na entrevista, a menina disse que acredita que irá superar o problema após algumas cirurgias plásticas, mas as cicatrizes das humilhações que sofre todos os dias, no entanto, ficarão para sempre em sua memória.

A frase da adolescente resume o sentimento de milhares de crianças e adolescentes que sofrem caladas as "brincadeiras" de mau gosto de seus colegas de escola. Mas até quando as escolas e os responsáveis irão fingir que este é um problema dos outros? Até quando a sociedade irá se calar? Não podemos esperar novas crianças e adolescentes marcados por essa crueldade chamada bullying. Nos últimos dias, os noticiários nacionais voltaram a falar sobre o assunto após serem divulgados novos vídeos em que Wellington Menezes de Oliveira, o atirador que praticou o massacre numa escola em Realengo, diz que mataria para expiar as humilhações que havia sofrido no colégio. Obviamente, o ato não demonstra, por si só, relação com o crime, Wellington matou 12 alunos da escola municipal Tasso da Silveira, o crime, na verdade, foi resultado de uma mente doentia e deprimida. Quase 100% das pessoas que sofrem o bullying nunca cometeram atos criminosos como esse, mas mesmo assim as escolas e os pais precisam ficar atentos a alguns sinais.

O termo bullying foi originado na década de 70 a partir do termo bully, que significa "valentão". Em 2009, apresentei à Assembleia o Projeto de Lei 1.239, que institui o Programa de Combate ao Bullying nas escolas públicas e privadas do Estado. A ideia é estimular o combate a qualquer tipo de humilhação dentro das escolas. O PL propõe ainda que a escola crie uma equipe multidisciplinar com a participação de docentes, alunos, pais e voluntários, para a promoção de atividades informativas, de orientação, prevenção e sanção interna. Essa é a hora das escolas, pais e autoridades se unirem para combater qualquer tipo de violência física e psicológica, não dá mais para deixar esse assunto de lado, pois a futuro de nossas crianças depende disso.

De acordo com dados da ONG Plan, presente em 66 países, um em cada três estudantes brasileiros do ensino fundamental revela ser ou ter sido alvo de maus-tratos por parte de colegas de escola. Pela repetição da agressão, um de cada dez casos é considerado bullying. Além disso, 58% das escolas não acionam os pais das vítimas nem dos agressores e 80% delas não punem os autores do bullying. Mas nem todos os jovens tem se mantido calados frente à violência, alunos muitas vezes procuram os pais ou mesmo a direção da escola. Em um caso que ficou famoso nos Estados Unidos recentemente, o adolescente Casey Heynes que sofria violência de um colega foi além e resolveu tomar uma atitude mais drástica, a cena que foi gravada por um aluno e mostra que, após insistentes ataques, o agressor foi jogado para longe pela vítima de bullying, o vídeo pode ser visto no link: http://www.youtube.com/watch?v=Qa_cpUR5Zg0. O garoto tornou-se um super-herói mundial depois que o vídeo em que aparece reagindo ao bullying foi postado na internet. Casey foi apelidado de Zangief Kid por causa da semelhança do golpe ao do personagem de videogame chamado Zangief, do jogo Street Fighter. O jovem recebeu o apoio de milhões de pessoas de todo o mundo, muitos deles vítimas de bullying.

Nos últimos dias, o psiquiatra americano Timothy Brewerton, que tratou de alguns dos estudantes sobreviventes do massacre de Columbine, nos EUA, que deixou 13 mortos em 1999, apresentou, no Rio, um estudo realizado pelo serviço secreto do país apontando que nos 66 ataques em escolas que ocorreram no mundo desde 1966, 87% dos atiradores sofriam bullying e foram movidos pelo desejo de vingança. Esse é um dado que deve ser tratado com muito cuidado. Espero que neste novo mandato possa festejar a aprovação do PL 1239/2009 e ver o fim do bullying nas escolas brasileiras. As escolas precisam coibir definitivamente as agressões aos mais vulneráveis e penalizar os responsáveis.



*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e presidente estadual do partido.

alesp