APRENDENDO COM O RACIONAMENTO - OPNIÃO

Luis Carlos Gondim*
16/05/2001 17:50

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No ano de 1999, apresentei na Assembléia Legislativa o Projeto de Lei 976/99, que obriga a instalação de geradores de energia nos shopping centers do Estado de São Paulo. O objetivo deste projeto, que continua tramitando, é prevenir os problemas causados pela interrupção de energia elétrica nos locais de grande concentração de pessoas. Este projeto foi criado porque há dois anos já era prevista uma sobrecarga no sistema de geração de energia elétrica em nosso país. Conseqüentemente, alertávamos para o risco de cortes abruptos que o Brasil poderia sofrer no futuro, pois não havia uma discussão sobre a nossa matriz energética e outras possíveis fontes alternativas de energia limpa.

E agora o futuro chegou com a ameaça dos apagões, a partir de 1.º de junho, como medida de racionamento de energia. De acordo com as perspectivas do governo, o racionamento vai deixar as cidades brasileiras sem luz por um período de 3 a 5 horas, todos os dias, durante 6 meses no mínimo. Já dá para imaginar os transtornos e os prejuízos que isto vai significar, e a população se mobiliza na tentativa de minimizar os problemas que os apagões irão causar em nosso dia-a-dia.

O mais surpreendente disso tudo é ouvir o presidente Fernando Henrique Cardoso dizer que foi pego de surpresa com essa crise energética. Em outras palavras, ele admitiu que não tinha idéia da situação que o país estava atravessando, embora os técnicos e especialistas estivessem informando há muito tempo, a possibilidade do caos que estava cada vez mais próximo.

Há seis anos como presidente da República de um país cuja produção de energia depende quase que exclusivamente das usinas hidrelétricas, Fernando Henrique tinha a obrigação de estar informado a este respeito. E mais: tinha o dever de tomar as medidas necessárias para evitar essa crise há tanto tempo anunciada.

O problema é que, infelizmente, as projeções preocupantes feitas pelos técnicos ficaram realmente só no nível técnico, ou seja, um assunto para poucos. No caso, o presidente manteve-se à parte desta questão. Ou foi mantido.

Agora, a posição do governo é muito simples: culpa-se São Pedro pela falta de chuvas e pelo nível reduzido dos reservatórios e joga-se o custo desta crise em cima da população, com cortes de energia, possível aumento de tarifas e multa para quem consumir demais.

Falta de investimentos no setor, processo de privatização mal feito, problemas com geração e transmissão de energia, são assuntos técnicos demais, não é senhor presidente?

De tudo isso, há pontos que devemos ressaltar e que, observando por um lado positivo, se for possível, o Brasil tem muito a aprender. De 15 a 20% da nossa energia é desperdiçada. Portanto, se todos se empenharem no sentido de economizar e evitar o desperdício, temos chances de contornar esta situação sem atingirmos o caos.

Há muito o que aprender com essa história lastimável que estamos vivendo. Devemos, acima de tudo, nos tornar consumidores responsáveis, lembrando sempre que o consumo de energia elétrica em nossa casa, nas empresas, nas indústrias e no próprio governo representa a utilização de recursos naturais, passíveis de esgotamento.

Portanto, é fundamental que cada cidadão brasileiro faça a sua parte para enfrentar a tão temida crise de energia, que tem muito a nos ensinar.

*Luis Carlos Gondim é deputado estadual e líder do Partido Verde na Assembléia Legislativa.

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