SOLUÇÃO NO QUINTAL DE CASA - OPINIÃO

Duarte Nogueira*
22/05/2001 14:28

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Enquanto se discute a crise energética brasileira, causada pela falta de investimentos ao longo das últimas décadas e também pela mais rigorosa estiagem dos últimos 70 anos, uma das soluções está em nosso quintal. Ou melhor, em nossa região. Refiro-me à produção de energia por meio da queima do bagaço da cana.

O Estado de São Paulo tornou-se o maior produtor mundial de açúcar e álcool e o Brasil é o único país do mundo a implantar um combustível alternativo ao petróleo, com vantagens ambientais e sobretudo sociais. Incorporam-se ao setor cerca de 500 mil trabalhadores rurais, seja na lavoura ou na indústria, fora o retorno em impostos que o setor proporciona anualmente. Calcula-se que o mercado sucroalcooleiro movimente cerca de R$ 12,7 bilhões por ano.

Além de todas as vantagens resta mais uma, exatamente de onde o leitor comum menos imagina. É do resíduo da cana, o bagaço, que as usinas e destilarias da região produzem eletricidade para mover sua produção. As usinas são auto-sustentáveis e geram energia por meio do vapor obtido com a queima do bagaço da cana. Essa produção de energia é sazonal, ocorre somente no período da safra, mas é justamente nessa época que enfrentamos a estiagem.

Da energia gerada, há o excedente que pode ser comercializado e introduzido na rede de distribuição da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) ou das concessionárias que atendam outras regiões. Das 42 usinas e destilarias da região, oito vendem energia produzida pelo bagaço da cana e mesmo assim a capacidade de produção vai além. O potencial de geração é de 2.000 de megawatts, o suficiente para manter uma cidade com 800 mil habitantes "acesa" durante um ano.

Se todas as unidades produtoras estivessem envolvidas no processo de produção de energia a partir do bagaço de cana, estaríamos aproveitando um potencial energético de cerca de 4.000 megawatts, um quarto do que São Paulo produz. E, além disso, não dependeríamos exclusivamente da geração de energia utilizando o potencial hídrico, já que 80% da produção energética vem das hidrelétricas.

A lado da implantação de usinas termoelétricas, a co-geração é uma forma de aumentar o potencial gerador de energia em São Paulo com ingredientes genuínos: temos tecnologia, matéria-prima e equipamentos. Então, é mais do que urgente incrementarmos as ações para tornar possível a produção de energia a partir do bagaço de cana e buscarmos as fontes financeiras para viabilizar ao empresário uma parceria nessa produção.

Há interesse público na ampliação do nosso potencial energético, até como condição para que o Estado continue recebendo investimentos, gerando empregos, desenvolvendo e melhorando a qualidade de vida dos paulistas.

*Duarte Nogueira, 37, é engenheiro agrônomo, líder do governo na Assembléia Legislativa e vice-presidente do PSDB de São Paulo. Foi secretário de Estado da Habitação no governo Covas (95/96)

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