LUZ, CÂMARA E PODER - OPINIÃO

Milton Flávio*
16/05/2001 15:32

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O premiê italiano Silvio Berlusconi, que acaba de ser consagrado nas urnas, é dono de uma fortuna calculada em cerca de U$ 14 bilhões - o que o transforma num dos homens mais ricos do mundo, o décimo quarto, de acordo com a revista Forbes. Sobre o magnata, pesam as mais variadas suspeitas. É acusado de manter ligações com a máfia, de sonegação, de lavagem de dinheiro, de subornar autoridades e de andar na companhia de políticos conhecidos por suas posturas fascistas e xenófobas.

Não por acaso, Berlusconi foi alvo de fortes críticas da imprensa e de diversos líderes europeus durante a campanha eleitoral, concluída no último domingo. Tanto os ataques da imprensa como o nariz torcido dos líderes, no entanto, foram em vão. A Casa das Liberdades - coalizão de partidos de centro-direita que o apoiou - obteve a maioria no Parlamento. Diante de tais resultados, é de se perguntar o que passa, afinal, na cabeça dos eleitores italianos, para eleger um sujeito assim tão, digamos, enrolado do ponto de vista ético. Se a eleição ainda fosse no Brasil, vá lá. Poder-se-ia argumentar que aos nossos eleitores faltam informação, cultura e discernimento. Afinal, a maior parte deles, 65%, não concluiu sequer o Ensino Fundamental...

Alguns analistas atribuem a vitória de Berlusconi a uma despolitização crescente do eleitorado e ao distanciamento da classe política em relação à sociedade. Tais fatores, acreditam, teriam contribuído para que os italianos abandonassem sua conhecida fidelidade aos partidos, aderindo de corpo e alma ao que se convencionou chamar de "espetacularização" da política, onde a imagem vale mais. Pode ser que seja isso, pode ser que não. Seja como for, Berlusconi tem a seu favor uma enorme vantagem competitiva em relação aos adversários: é bilionário, possui jornais, editoras e controla 90% das transmissões televisivas em seu país. É um portento, o homem.

Mas, o que há em comum entre o premiê italiano e alguns de nossos mais ilustres caciques, como, por exemplo, Antônio Carlos Magalhães? O que os aproxima, o que os faz ser, para usar uma expressão corriqueira, tão bons de votos? A paixão pelo futebol? É uma hipótese. Berlusconi, sabe-se, é o big boss do Milan, uma das equipes mais importantes da Europa. ACM, até onde se tem notícia, ainda não comprou nenhum time baiano, talvez pelo fato de ser apoiado por todos eles, como se pôde ver recentemente na televisão, quando os atletas dos arquiinimigos Bahia e Vitória lhe renderam homenagens sinceras. Seria o gosto pela arte o fator de aproximação entre os dois? É uma outra hipótese. Não se ignora que Berlusconi já foi cantor de navios. ACM, no entanto, não precisa nem soltar a voz. Há quem o faça por ele. De uma forma mais bárbara do que doce.

Está descartada a hipótese de ACM ter um passado tão enrolado, do ponto de vista ético, quanto Berlusconi. Nunca se soube, por exemplo, de seu eventual envolvimento com quadrilhas de qualquer espécie. Também não se cogita da possibilidade de que ele tenha, em tempo algum, agido em benefício próprio ou contra os interesses da nação e muito menos da Bahia de "dona" Canô, filhos e compadres. Muito pelo contrário. Quando ministro das Comunicações, durante o governo de José Sarney, distribuiu - de forma transparente e criteriosa - centenas de concessões de emissoras de rádio e tevê a políticos. Injustamente, os críticos de sempre atribuem a isso o fato de Sarney ter ganho um ano a mais de mandato. Pura maldade.

O que aproxima Berlusconi de ACM é o fascínio pelas comunicações. O senador, embora muito mais pobre que Berlusconi, possui na Bahia oito emissoras afiliadas à tevê Globo. Juntas, elas têm 80% da audiência. Daí, o amor que o povo baiano lhe devota. Um amor tão grande e desinteressado que é capaz de levar os repórteres de seus canais a se recusarem a cobrir uma manifestação popular que pedia a sua cassação, por falta de decoro parlamentar. E o povo lá sabe o que é decoro? Ainda há quem acuse a tevê de ser um instrumento alienante, desagregador. Pode?

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e coordenador da Frente Parlamentar do Cooperativismo Paulista.

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