SUJEIRA SOBRE O TAPETE - OPINIÃO

Milton Flávio*
22/05/2001 15:45

Compartilhar:


O Partido dos Trabalhadores é o partido mais transparente do mundo. Isso é inquestionável. Seus representantes têm verdadeira obsessão por CPIs. Até parece que não sabem fazer outra coisa na vida. Para a maior parte deles, o Parlamento deve funcionar como uma grande delegacia de polícia, onde os adversários políticos devem ser tratados como culpados até prova em contrário. Suspeitam de tudo e de todos. Os outros sempre agem de má-fé. Eles não. São movidos, apenas e tão-somente, pelos mais cândidos princípios.

O PT é tão transparente que inova, inclusive, na relação que mantém com o "lixo". A gentalha, no afã de esconder seus pecadilhos, joga a imundície para debaixo do tapete. A cartilha petista reza que a sujeira deve ficar exposta nas avenidas, ruas, praças e jardins. Para que ninguém tenha dúvidas de que ela existe de fato e é patrocinada pela omissão ou incompetência da administração municipal, sob o seu comando. Não é preciso muito esforço para constatar o que se acaba de escrever. Basta andar pela cidade, basta abrir os jornais. Está lá, escrito com todas as letras: "Empresas varrem apenas 36% do que deveriam."

Em outras palavras: as companhias não cumprem o fixado em contrato, não são multadas (até porque, imbuída da mais absoluta boa-fé, a Prefeitura petista parece acreditar na lisura dos empresários do setor) e, salvo rotundo engano, vão receber o que lhes é "devido". Seria leviandade fazer qualquer conexão entre a sujeira das ruas e o fato de que parte das empresas contratadas para varrer e recolher o lixo terem contribuído financeiramente com a campanha do partido nas últimas eleições municipais.

Tão transparente quanto o PT só o PCdoB, seu fiel aliado. O PCdoB é tão afirmativo, tão correto, tão acima de qualquer suspeita, que se sente dispensado da tarefa de fiscalizar os seus companheiros que controlam as entidades estudantis. Ao contrário. Ele os defende com foices e martelos. Ora, que mal há no fato de os rapazes da UNE e entidades afins arrecadarem todos os anos milhões de reais com a emissão e comercialização de carteirinhas e não prestar contas a ninguém? Pouco lhe importa que um contingente imenso de alunos seja privado do direito de pagar meia entrada em espetáculos culturais e desportivos, pois não se dispõe a depositar pelo menos R$ 15 nos cofres dos cartórios estudantis.

Mas seria novamente leviano imaginar que o partido - ao qual são filiadas as principais "lideranças" da UNE - tenha se beneficiado em qualquer tempo e lugar dessa arrecadação, quer para o financiamento de campanhas eleitorais, quer para a montagem de eventos contra a globalização e adubos orgânicos, quer para marcar sua posição contrária ao uso de microondas e freezers, símbolos acabados do nefasto imperialismo norte-americano.

Como não se pretende agir de forma leviana, vamos dar um crédito de confiança ao PT e ao PCdoB. A prefeita de São Paulo não mentiu, de fato, na campanha quando afirmou ser contra a inclusão das despesas com os inativos na conta da Educação - motivo pelo qual o PT pretendeu cassar os ex-prefeitos Maluf e Pitta. Ela agora só age da mesma forma porque, evidentemente, as circunstâncias a obrigam.

Bem-intencionada, a prefeita não foi incoerente quando concedeu a cerca de mil funcionários de confiança (de sua confiança e do PT, é claro) aumento de mais de 40%, contra os cerca de 3% dados à raia miúda do funcionalismo. A bem da verdade, é preciso lembrar que o PCdoB esboçou uma reação, ensaiou um protesto, em nome de seus compromissos históricos. Mas pensou bem direitinho, refletiu melhor, e voltou atrás. O que fazer com os cargos?

Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB-SP e coordenador da Frente Parlamentar do Cooperativismo Paulista

alesp