O último mito

Opinião
12/05/2005 17:49

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É líquido e certo que o presidente da República e o PT sempre foram usuários para lá de contumazes do marketing político. Especialmente quando, estando no poder, dele puderam valer-se às custas do dinheiro público. Marta Suplicy " ex-senhora dos olhos da cúpula petista; hoje, estorvo insepulto " não teve o menor constrangimento de superar no quesito alegoria as "obras" de Maluf e de Pitta. Que Duda Mendonça estivesse a lhe dedicar préstimos é detalhe ordinário.

Nos últimos anos, venderam à nação a idéia de que o PT era o partido das virtudes. Ético, competente, transformador e, não riam, por favor, democrático. Claro que todas essas lorotas custaram a pegar. E só pegaram porque, além do marketing, boa parte da imprensa nativa, movida pela militância juvenil de seus quadros, cumpriu exemplarmente a missão que lhe coube: fechar os olhos míopes para a total falta de apego do partido aos princípios curiais do republicanismo e da democracia. Deu no que deu: um fiasco.

A cada dia que passa fica mais claro o tamanho do engodo que a propaganda gratuita de Lula vendeu aos incautos em 2002. Ou alguém ainda acredita que o partido tinha " se não tem como poderia ter, lá atrás? " projetos consistentes para a segurança, educação, saúde e tudo o mais que se convencionou chamar de programa de governo? O candidato nada tinha, como o presidente nada tem, além do voluntarismo oportunista, das tiradas de mau gosto e do mais pleno deslocamento da realidade.

Que uns e outros ainda acreditem na suposta, para lá de eventual, boas intenções de Lula e de seu governo chinfrim, é algo verídico. Mas que só pode ser debitado na conta grená da tolice, possivelmente o "bem" mais fartamente distribuído entre nós.

O apego de Lula & cia. pela democracia, por exemplo, não resiste ao que se lê diariamente nos jornais: o afeto do presidente pelo presidente da Venezuela e as lágrimas incontidas de seu "segundo" (o competente José Dirceu) toda vez que se depara com Fidel Castro. Mas, se alguém ainda duvida do caráter autoritário de uns e outros, que leia e releia algumas de suas propostas, como a criação do conselho de jornalistas e de um conselho "tutelar" para a cultura, a reforma universitária, a cartilha de boas maneiras ao falar e escrever etc. Por trás de cada uma dessas propostas, o que se vê é a tentativa de empregar amigos, influenciar pessoas e calar quem ousa pensar " e dizer o que pensa.

Competência. Bem, nem os míopes carecem de óculos para enxergar o quão incompetente é o atual governo. Daí a desnecessidade de insistir em tema tão aborrecido. Pouco avesso ao trabalho " tirante as exceções que nada mais fazem que corroborar a regra ", o governo de Lula é um amontoado de bravatas e de preguiças acumuladas. Esse pessoal "improvisado" não consegue gastar com decência o pouco que tem. Mas sabe " como não? " abusar das viagens nacionais e internacionais. Em nome, claro, da salvação do mundo.

Chegamos ao ponto. Custou, mas até que enfim a imprensa começa a registrar o que muita gente há tempos não ignora: que de excelência a política externa brasileira nada tem. O que é pior: que o atual governo, também nesse campo sensível, se pauta pelo voluntarismo. Sua grande obra vai ser a desmoralização do Itamaraty. A pergunta que não se cala é a seguinte: qual o próximo fora de Lula e de José Dirceu? Se é para não deixar pedregulho sobre guias, que Sua Excelência indique logo o Severino para a embaixada nos EUA.

Milton Flávio é professor de Urologia da Faculdade de Medicina da Unesp (Botucatu) e deputado estadual pelo PSDB-SP

miltonflavio@al.sp.gov.br

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