A LOCOMOTIVA DO SÉCULO XXI - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
21/03/2001 15:03

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O relatório final do Fórum São Paulo Século XXI, criado para pensar e planejar o desenvolvimento do Estado neste século que se inicia, acaba de ser concluído. Trata-se de um guia de leitura, para que os diversos setores possam utilizar e colaborar na construção de uma sociedade mais justa, elaborado com a participação ativa da sociedade paulista, reunindo deputados, sindicatos, associações, universidades, empresários e os maiores especialistas nas mais diversas áreas.

Fruto da reunião sistemática dos vários conselhos temáticos, de centenas de reuniões e seminários, foi elaborado um projeto de desenvolvimento para o Estado de São Paulo, que levou em conta o quadro complexo em que a sociedade se organiza, identificando o saber como vetor mais dinâmico, a partir da constatação de que já vivemos na era do conhecimento, na qual o saber se transforma na riqueza mais importante do indivíduo e da nação.

A partir da identificação de um cenário onde o saber será cada vez mais uma questão-chave e tomando por base a inclusão social como fator indispensável ao desenvolvimento, o Fórum realizou um diagnóstico e buscou apontar rumos.

Esse diagnóstico complexo, oferecido pela Fundação Seade, revela, por exemplo, que no futuro conviveremos com uma sociedade com outro perfil demográfico e expectativa de vida maior, que estarão a demandar novas noções de trabalho e lazer, exigindo uma carga previdenciária, que Estado e Sociedade precisarão estar prontos para assumir. Revela ainda outras questões pertinentes: que a mortalidade infantil, grande responsável no passado pela diminuição da longevidade, já começa a perder espaço para mortalidade juvenil, em decorrência da violência urbana e de acidentes de trânsito; a confirmação da tendência à urbanização, com uma reviravolta impressionante na demanda de serviços públicos de infra-estrutura; a existência de dois Estados de São Paulo distintos, um que é um centro de excelência em saúde, educação e tecnologia de ponta e outro atrasado, desigual, onde reinam a miséria e processos econômicos primitivos, como a agricultura extrativista e predatória.

Identificar as características e o estágio do desenvolvimento econômico atual é condição essencial para a definição de uma estratégia de desenvolvimento. Porém, de nada adianta isso, sem a clareza do tipo de desenvolvimento e de gestão que se quer para o Estado de São Paulo.

Foi tomada a decisão clara por um desenvolvimento que seja inclusivo. Um desenvolvimento que seja medido na sua dimensão humana e aí o Fórum já está oferecendo uma contribuição concreta; a criação do Índice Paulista de Responsabilidade Social, um indicador de terceira geração que avança em relação a indicadores como Produto Interno Bruto (PIB) e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), da ONU, permitindo a classificação dos municípios de São Paulo pela reunião de critérios que harmonizam crescimento econômico e diminuição das desigualdades sociais.

Quanto à gestão, a opção feita pelo Fórum foi por uma democracia, que não seja simplesmente a representação formal das instituições, mas que seja participativa. Uma democracia que se desdobre numa visão de Estado, na qual se sobressaem a fiscalização e o controle, em detrimento da condição de produtor e provedor. Nesse caso, foram destacados o papel das agências de regulação e de manifestações da sociedade organizada como cooperativas, organizações sociais, enfim, tudo aquilo que engloba o chamado terceiro setor.

O relatório do Fórum São Paulo Século XXI é mais um desses sonhos que, sonhados juntos, se concretizam. Trata-se, tenho certeza, de uma contribuição valiosa do Legislativo de São Paulo, que abriu-se para a sociedade e gestou um documento que tem tudo para se constituir num instrumento para orientar o desenvolvimento de São Paulo rumo a uma melhor qualidade de vida da nossa população.

Arnaldo Jardim é engenheiro civil e Presidente Estadual do PPS - Partido Popular Socialista

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