Opinião - Chacina carioca


21/06/2011 16:24

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Na linguagem jornalística podemos dizer que o fato foi para a página dezenove, ou seja, deixou as manchetes, parou de interessar, e apenas voltará à baila quando algo semelhante se repetir. Foi, é, e será sempre assim. Passados alguns meses da tragédia ocorrida no Rio de Janeiro, quando um ex-aluno invadiu uma escola, e disparou contra estudantes, matando e fazendo vários feridos, o assunto caiu no esquecimento. E já não tem espaço nem na tal página dezenove.

Eu não gostaria de revolver cinzas, cutucar feridas, e falar sobre aquela tragédia que marcou de maneira tão profunda a nossa sociedade. Antes de citar o motivo do comentário, gostaria de destacar o que está sendo incutido na mente dos nossos jovens.

Outro dia vi, num computador, e depois fiquei sabendo que estão por aí, a disposição de todos, um desses jogos, feitos em campos de batalha virtuais. A perfeição chegou a tal ponto que, em quase todos os instantes o jogador (ou artilheiro, ou fuzileiro, ou carrasco, ou simplesmente assassino), dispara tiros precisos; corpos virtuais são dilacerados, explodem ante a ação brutal que se desenvolve. E as tais vítimas sequer agonizam. A perfeição joga sangue para todo lado, e até o cérebro da vítima é espalhado.

E o atirador é incentivado a continuar, afinal, de acordo com a normas do jogo, ele tem metas a cumprir, desafios a vencer, ir em busca da glória. E o que é a gloria?

Lembro bem. Houve um tempo, está certo que distante, em que éramos proibidos de entrar em cinemas onde estavam exibindo filmes impróprios para menores. E o que era "impróprio", naquela época? Chanchadas, filmes de terror, ou filmes considerados violentos. Filmes que, comparados ao que temos hoje, chegam a ser hilários.

Mas, o que temos hoje? O incentivo à violência está em toda parte. Sei que muitos dirão que a fome, o desemprego, a falta de saúde pública, a insegurança, a corrupção são, também, outros tipos de violência a que a sociedade está exposta. Concordo plenamente.

Só que, agora, quero dar enfoque ao tipo de violência que vai sendo injetada na sociedade, principalmente nos nossos jovens. A música que se ouve é uma agressão aos tímpanos. Não apenas pela dose de decibéis, como pelo conteúdo. Conteúdo? Bem, a mensagem tem nitidamente a conotação voltada para o culto à violência, ao protesto, a degradação. E sei que muitos dirão que ser contrário a isso é ser retrógrado, é ser reacionário! É ser "de direita"!

Eu prefiro a pergunta: A que vetor pertence o indivíduo que dispara um tiro contra uma criança? Esquerda? Direita? Centro? Não, não precisamos de respostas. Ela está ai, à mão, ante os nossos olhos de descrença, descrença nos nossos valores, nas nossas atitudes, nos nossos objetivos como sociedade.

A tragédia é apenas mais uma a somar-se às outras que virão. E cito um pequeno jornal, vindo de nossas ruas. Destaque-se, um artigo publicado por um jornal voltado para a publicidade, distribuído gratuitamente na periferia paulistana. Nele, o autor fala daquela tragédia carioca que poderia ser paulista, gaúcha, mineira, baiana, brasileira em todos os sentidos.

No final do texto, o autor abre espaço para opiniões dos leitores. Em um dos comentários, um leitor mostra-se a favor do assassino, e destaca que está preparando algo semelhante, segundo ele, a forma encontrada para punir os autores ou parentes dos que lhe impuseram castigos e humilhações na escola que freqüentou.

Paro aqui, e pergunto: em uma situação dessas, não seria melhor uma dose de censura? E o que dizem aqueles que são contrários ao controle das redes sociais? Quantas tragédias são arquitetadas nessas tais redes? É esse tipo de gente que estamos produzindo? O que devemos fazer? Como devemos agir? Como se vê, deixo mais perguntas do que respostas e a única certeza: o que aconteceu em Realengo deve nos preocupar. E muito. Novos malucos estão por aí, à solta. Isso é a realidade e só não sabemos quando será a próxima estupidez.



* Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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