DESCRENÇA E FÉ NO PROCESSO DE APRIMORAMENTO DA DEMOCRACIA - OPINIÃO

Vanderlei Macris*
18/06/2001 17:48

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O episódio que levou à cassação dos senadores José Roberto Arruda e Antônio Carlos Magalhães, à primeira vista, representa um desgaste da atividade parlamentar e da imagem do Legislativo.

Sobre a opinião pública é esse o efeito. Mas, se analisados em seu contexto histórico, levam a uma outra conclusão. Eles revelam um paulatino amadurecimento do Parlamento em nosso país.

São exemplos de depuração da atividade política que se somam a outros mais graves, mas igualmente significativos. Cito, entre os quais, o processo de impeachment do ex-presidente Collor e a cassação do senador Luiz Estevão, ou, em menor escala, do deputado Hanna Garib, pela Assembléia Legislativa paulista em 1999, envolvido no escândalo da máfia dos fiscais da Prefeitura de São Paulo, e de prefeitos e vereadores em diversas cidades.

A questão ética não pode estar separada da atividade parlamentar. Casos como estes devem ser investigados e apurados até as últimas conseqüências e os responsáveis exemplarmente punidos para que não se aprofunde ainda mais na opinião pública o sentimento de descrença. Pois, do contrário, tem-se a impressão de que a atuação dos políticos está irremediavelmente comprometida e até mesmo que o Legislativo não é mais necessário.

Se atualmente os escândalos vêm à tona com mais facilidade é porque a democracia garante a liberdade de imprensa e não porque se pratica mais ou menos delitos que no passado.

Refiro-me ao período do regime militar, quando a imprensa era censurada, não havia liberdade de expressão e os poderes eram tutelados pelo Executivo. Casos mais graves eram escamoteados e só se tornaram conhecidos da opinião pública muito tempo depois da derrota do regime.

Podemos objetar que a Justiça é lenta ainda, que os ricos têm mais direitos do que os pobres porque se prevalecem do poder econômico. E eu diria que em muitos casos ainda é assim. Creio, entretanto, que estamos aos poucos sepultando os cadáveres do passado.

ACM faz parte desse passado, foi íntimo dos governos militares, e o seu caso, por ser o mais recente, também é o mais significativo das mudanças que aos poucos vão se operando no presente cenário político.

Devemos continuar incentivando esse processo para que o povo não perca a esperança em um futuro melhor e para que aventureiros e demagogos não se aproveitem da situação e passem a pregar antigos métodos, que representaram décadas de atraso para o país.

Mais do que descrédito, devemos inspirar esperança para continuarmos construindo um sistema mais justo, igualitário e sem privilégios em nosso país.

* Vanderlei Macris é deputado estadual e ex-presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo.

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