As notícias que vêm do exterior são alentadoras em relação ao uso e à produção de álcool combustível no mundo.Os Estados Unidos, que já produzem e consomem mais de 6,5 bilhões de litros, até 2010 devem ampliar seu mercado para 17 bilhões de litros.A China, terceiro maior produtor mundial, com 2,5 bilhões de litros, todos voltados para a indústria de bebida, deve investir até 2008 - ano em que sediará as Olimpíadas - cerca de US$ 12 bilhões em medidas para reduzir a poluição, entre as quais está prevista a adoção de mistura de álcool à gasolina.O Japão estuda a implementação, a curto prazo, de mistura de álcool à gasolina para substituir um derivado do petróleo, o MTBE, considerado prejudicial ao meio ambiente.A Tailândia deverá produzir rapidamente cerca de 2,5 milhões de litros/dia de álcool para usar como aditivo à gasolina. Na Suécia foi lançado o veículo flexível (roda com álcool ou gasolina) e o álcool vem sendo utilizado em 400 ônibus urbanos. No âmbito da União Européia já existe uma determinação de substituir 20% dos combustíveis fósseis por combustíveis de origem renovável até 2020.Voltando aos Estados Unidos, lá já rodam cerca 2 milhões de veículos flexíveis e, aos poucos, está sendo construída uma rede de distribuição de álcool pelo país.Isto tudo não está ocorrendo por acaso. A recente reunião da ONU sobre mudanças climáticas realizada em Marrakesh, com o objetivo de implementar o protocolo de Kyoto, reforçou o conceito de que o mundo precisa mudar a matriz de energia baseada nos combustíveis fósseis, substituindo-a por combustíveis limpos e renováveis como o álcool combustível.Infelizmente o alento externo não tem contrapartida no mercado interno. Embora o álcool anidro - usado para aditivar a gasolina, numa proporção que varia de 20 a 24% - acompanhe a curva de crescimento da frota de veículos movidos a gasolina, o álcool hidratado, carro chefe do Programa Nacional do Álcool e que move a frota brasileira de veículos a álcool, está sendo relegado a categoria de combustível de segunda classe.A situação é preocupante. O carro a álcool, alternativa brasileira à crise do petróleo de 1973 e que chegou a representar uma frota de mais de 5 milhões de veículos, representando mais de 80% das vendas na segunda metade da década de 80, tem uma fabricação circunscrita a 1,0% das vendas totais de veículos leves no Brasil, insuficiente para conter um sucateamento anual da ordem de 300 mil veículos.Embora a Volkswagen tenha aumentado a sua produção significativamente e outras montadoras como a GM tenham revelado o aumento da procura por veículos a álcool, o fato é que esse mercado é incipiente e dominado por uma frota envelhecida que cada vez consome menos.Não é à toa que ano a ano cresce a poluição por ozônio na cidade de São Paulo. A substituição de veículos a álcool por similares à gasolina (embora esta tenha 22% de álcool) faz com que haja um aumento de compostos que, na reação com a luz solar, formam o ozônio.Esse é apenas um dos aspectos. Outros são a questão do emprego, uma vez que o carro a álcool gera 22 vezes mais empregos que o carro a gasolina, o grave risco que estamos correndo de jogar pela janela uma rede de abastecimento de mais de 25 mil postos espalhados pelo país e a estagnação do desenvolvimento tecnológico.Não é lógico jogar fora todo um investimento da sociedade, que nos colocou na vanguarda e poderá nos dar a condição de ser um dos principais agentes da nova ordem mundial do século XXI. É preciso urgentemente rearticular a retomada da fabricação de carros a álcool, de tal forma que possamos produzir entre 200 e 300 mil veículos/ano par, ao menos, estancar a sangria e manter a frota renovada e no tamanho atual.Do contrário, estaremos correndo risco de, num futuro próximo, importar veículos a álcool dos Estados Unidos. Daí será a vergonha nacional! *ARNALDO JARDIMDeputado Estadual - Engenheiro Civil, 46, secretário da Habitação (1993), presidente estadual do PPS e coordenador da Frente Parlamentar pela Energia Limpa e RenovávelE-mail: arnaldojardim@uol.com.br