VAI LÁ, BRASIL - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
24/05/2002 14:44

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Vai começar a Copa do Mundo. Respiração suspensa num país onde cada um de nós se transforma em técnico, torcedor e quase jogador.

Apesar da loucura do horário, durante a madrugada ou começo do dia, tenho certeza que mais uma vez o Brasil vai parar e torcer. Apesar da desconfiança generalizada em relação às chances de chegarmos até a final, lá no fundo da alma todos nós acreditamos e desejamos conquistar o pentacampeonato.

Com sua ginga e matreirice, o futebol faz parte do espírito nacional, do jeito de ser de cada uma das pessoas que formam este cordial povo brasileiro.

Vale a festa, vale o espírito pátrio, vale o grito de gol, vale a paixão pelo futebol. Não vale, porém, esquecer de quanto esse esporte tem sido maltratado em nosso País. A incúria dos dirigentes, a falta de zelo das autoridades, a imprecisão das regras e um certo preconceito têm contribuído para retirar um pouco do glamour deste nosso glorioso esporte bretão.

Não devemos, no entanto, nos deixar levar pelas aparências. Em todo o mundo, o futebol é o esporte mais praticado e a Copa do Mundo supera as Olimpíadas em audiência. A despeito de um certo desdém de parcelas da nossa intectualidade - legitimamente enojada pelas manipulações políticas do tempo do autoritarismo e do baixo nível presente neste mundo futebolístico, é preciso cultivar e resgatar esse orgulho nacional.

O futebol é uma formidável e importante atividade comercial que emprega muita gente. Gera e gira recursos de grande monta. Quando a bola começar a rolar, não há de ser diferente: haverá uma natural mobilização em torno da bola e da seleção canarinho.

Desta forma seria natural e desejável um gerenciamento voltado para essa realidade pontual que durará pelo menos o tempo da permanência do Brasil na Copa. O correto seria que as escolas já estivessem preparando um calendário alternativo, permitindo que a garotada assistisse os jogos com tranqüilidade; as empresas se preparassem organizando cafés coletivos e fazendo com que todos os torcedores assistissem, se divertissem e depois pudessem produzir e trabalhar; as companhias públicas de transporte, de suprimentos de serviços básicos, como as de geração de energia, deveriam também ter programação especial.

Enfim, trata-se de um grande momento que deveria ser vivenciado pelo País de uma forma organizada, mesmo que espontânea e despojadamente como requer a alma brasileira. Viver juntos o sonho do penta é exercitar coletivamente um pouco dessa cidadania arranhada pelas amarguras do cotidiano. É misturar na mesma praça credos, ideologias e raças. É driblar com graça e beleza os obstáculos que não são poucos. É ser menos razão e mais paixão. É ser menos eu e mais Brasil.

Arnaldo Jardim é deputado Estadual,engenheiro civil, 47 - Secretário da Habitação (1993)

relator geral do Fórum SP Séc. XXI - Presidente Estadual do PPS

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