O RACIONAMENTO E A CRIMINALIDADE - OPINIÃO

Afanasio Jazadji*
06/06/2001 16:14

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Nos últimos meses, poucos fatos ocuparam tanto espaço na mídia como a decisão do governo federal de impor racionamento de energia elétrica em várias regiões do País, entre as quais a mais adiantada, a Sudeste, onde predomina o Estado de São Paulo, com seus 37 milhões de habitantes. É uma medida de impacto em todos os setores.

Uma decisão desse tipo afeta a vida das pessoas de vários modos. E uma das maiores preocupações dos moradores das grandes cidades paulistas diz respeito não ao risco de desemprego ou ao fim de alguns tipos de lazer, mas, sim, ao avanço da criminalidade.

Nosso Estado já tem sofrido bastante com os ataques de bandidos que multiplicam o número de furtos, roubos, sequestros e homicídios. Se criminosos agem em plena luz do dia, chegando a atacar até mesmo delegacias de polícia, é claro que, em época de luz apagada, aumenta ainda muito mais o perigo. É válida a frase de que "a ocasião faz o ladrão". Na verdade, a luz do dia e a iluminação artificial não inibem por completo a ação de bandidos ousados, mas a escuridão é um verdadeiro estímulo ao crime.

O secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, Marco Vinício Petrelluzzi, ansioso por arrumar uma desculpa para a falta de resultados mais efetivos do combate à criminalidade por parte do Governo do Estado, logo condenou o racionamento. Não se podem negar críticas à origem dessa crise de energia, uma crise surgida a partir da falta de ação do governo federal do PSDB, por ironia o partido de Petrelluzzi. O secretário tenta tirar sua responsabilidade em sua área e vai ganhando sobrevida.

O povo brasileiro gosta de colaborar com iniciativas para tentar superar crises. Já em 1932, inúmeros paulistas pegaram em armas para organizar a Revolução em defesa de uma Constituição para o País e doaram suas jóias para o sucesso do movimento. Em 1986, houve o Plano Cruzado e os brasileiros foram transformados em Fiscais do Sarney para ajudar a impor o controle dos preços e o combate à inflação. Em 1990, o presidente Fernando Collor avançou sobre contas bancárias e até sobre cadernetas de poupança de velhinhas indefesas, mas houve quem dissesse: "Se for para o bem do Brasil, aceito".

Agora, é inegável a incompetência do governo federal no campo da energia. Têm sido revelados relatórios de 15 anos atrás, recomendando obras de usinas que acabaram não sendo construídas. Essa situação tornou-se insustentável nos últimos anos, até o limite em que o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, resolveu admitir que, em seis anos de seu governo, não foram tomadas as providências fundamentais.

Ficar no escuro é apenas um dos lados do drama do apagão. Não há dúvidas de que, com as novas restrições na vida das pessoas, alguns produtos deixam de ser vendidos e vem uma nova onda de desemprego na indústria, no comércio e em serviços. Além da recessão, surge o inevitável risco de assaltos, uma vez que a escuridão favorece os bandidos. O governo deveria levar em consideração que a enorme cidade de São Paulo é um caso especial e deveria ser poupada do rigor com que é aplicado o racionamento. Uma cidade de marcante participação econômica, que já vive crise social, fica em situação ainda mais complicada, na escuridão das ruas e no vazio do comando das polícias.

*Afanasio Jazadji é jornalista, radialista e deputado estadual pelo PFL

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