"O que se faz agora com as crianças é o que elas farão depois com a sociedade". A frase foi dita por um sociólogo do século XIX e nos faz pensar: o que estão fazendo com nossas crianças hoje? A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência adverte: no Brasil 168 crianças ou adolescentes sofrem abuso sexual por dia, ou sete a cada hora. Além disso, mais de 200 milhões de crianças continuam a ser forçadas a trabalhar diariamente no mundo. Alerta da Organização Internacional do Trabalho salienta que três em cada quatro desses menores estão expostos às piores formas de exploração laboral - tráfico humano, conflitos armados, escravatura, exploração sexual e trabalhos de risco. Esse é o triste retrato do sequestro da infância que a sociedade assiste, estarrecida, nos noticiários da TV, nos jornais e presencia no dia a dia. Isso sem falar que esses meninos e meninas ocupam boa parte do espaço nas páginas policiais com um currículo triste: roubo, drogas e assassinatos. No caso da violência sexual, outra questão nos assusta. O fato de, muitas vezes, o agressor ser o alicerce e uma referência fundamental na vida da criança " como avôs, tios, irmãos, padrastos, amigos da família e até o pai. Esses pequenos indivíduos, seres inocentes, aprendem em casa a cultura da violência, ensinamento que se consolida nas ruas e que, mais tarde, irão repetir na vida adulta. No entanto, tão triste quanto histórias e cenas de violência e trabalho forçado é constatarmos uma rendição diante da vida e a desesperança numa faixa etária onde deveria brotar uma inexorável sede de viver. Talvez essa realidade caótica da sociedade explique porque a Organização Mundial da Saúde considera a questão da violência contra menores como um dos grandes problemas de saúde pública do planeta. Fica a pergunta sugerida pelo sociólogo. O que será da nossa sociedade? Como deputada estadual não posso me render a essa guerra onde as vítimas têm menos de 15 anos. A primeira batalha já foi vencida: a grande massa da sociedade passou da fase da negação da realidade para o reconhecimento e o enfrentamento do problema. Nas próximas semanas, por exemplo, a CPI da Pedofilia, da qual serei titular, vai ser instaurada na Assembleia Legislativa e vai investigar os inúmeros casos de abuso sexual no Estado de São Paulo, em cidades como Sorocaba, Catanduva, Poá e Santo André, além de incontáveis denúncias veiculadas rotineiramente pela mídia. Temos que continuar a luta para que as crianças, que de todas as maneiras são vitimizadas, deixem de ser somente números perdidos em meio às estatísticas de violência. É um clichê, mas ainda acredito que as crianças são o futuro desta nação! *Maria Lúcia Amary é deputada estadual pelo PSDB