Delegado faz nova denúncia de números errados sobre a violência

Paulo Siquetto afirma que secretaria registra casos de chacina como homicídio de apenas uma pessoa
04/12/2001 22:04

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DA REDAÇÃO (com fotos)

O presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, Paulo Roberto Siquetto, fez nova denúncia de erro nos dados sobre a criminalidade em São Paulo. Segundo ele, boletins de ocorrência de chacinas são titulados como homicídio, e disso resulta a inclusão de apenas uma morte nos computadores da Coordenadoria de Análise e Planejamento, órgão da Secretaria da Segurança Pública encarregado de elaborar estatísticas.

"Os programas de computador da secretaria não aceitam a qualificação de homicídio triplo, por exemplo, na hora da entrada de dados. Com isso, num caso de chacina, é como se apenas uma pessoa tivesse morrido", esclareceu.

Siquetto foi ouvido pelos membros da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa na manhã desta terça-feira, 4/12. Ele confirmou denúncias publicadas na imprensa de que delegados estão sendo pressionados a registrar os homicídios como outro tipo de ocorrência, para que as estatísticas apontem diminuição da violência.

O delegado reafirmou ter recebido informações de que, há cerca de um ano, em reunião com os delegados seccionais de polícia da Capital e da Grande São Paulo, o secretário teria sido "taxativo ao estabelecer que os distritos policiais não poderiam ultrapassar determinado número de homicídios, sob pena de o delegado perder a titularidade daquele DP".

"Estão brincando de fazer polícia em São Paulo", criticou o deputado Afanasio Jazadji (PFL). Para ele, além de configurar crime de falsidade ideológica e prevaricação, a adulteração de BOs impede o correto planejamento da ação da polícia, que pode estar "combatendo o crime errado, na região errada". O deputado Conte Lopes (PPB) quer que os delegados envolvidos dêem explicações sobre as informações contraditórias entre os boletins que lavraram e os termos circunstanciados elaborados pelos PMs que atenderam as ocorrências.

FGV e CPI

O deputado Wilson Morais (PSDB) afirma que "não há interesse do governo do Estado em esconder a criminalidade". Para ele, os casos apontados na imprensa podem ser de erro não intencional. "É preciso apurar, e para isso o governo se propõe a contratar a auditoria de uma instituição séria, a Fundação Getúlio Vargas", concordou Pedro Tobias (PSDB). A FGV seria encarregada de analisar os BOs que entram na estatística da Secretaria da Segurança Pública.

"A investigação do governo vai apontar como culpado o escrivão", contrapôs o deputado Vanderlei Siraque (PT). Ele acredita que a única forma de apurar as denúncias é com a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito, na qual os deputados poderão ter acesso a provas documentais. "Se a pressão sobre os delegados parte da Secretaria de Segurança Pública, a Assembléia tem que tomar providências", avaliou.

Os membros da comissão concordaram que a presidente do órgão, deputada Rosmary Corrêa (PMDB), entre em contato com o jornalista autor das reportagens sobre adulteração de dados, para obter os nomes de delegados que comprovadamente tenham assinado BOs incorretos. Esses delegados devem ser ouvidos pela comissão na quarta-feira da semana que vem.

alesp