UMA PARCERIA INUSITADA - OPINIÃO

Milton Flávio*
18/06/2001 17:08

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Seis anos após ter sido implantado pelo Ministério da Educação (MEC), o Exame Nacional de Cursos - Provão - está definitivamente consolidado como um dos principais instrumentos de avaliação das instituições de ensino superior. Em que pesem as críticas que ainda hoje lhe são feitas, tem aumentado de ano para o ano o número de universitários que dele participam e diminuído o dos que, como forma de protesto, entregam o questionário em branco.

Dirigentes de instituições universitárias, públicas e privadas, criticam, com alguma razão, o fato de que muitos alunos não se comprometem com o exame e fazem a prova sem se preocupar em responder corretamente às questões que lhes são formuladas. Dessa forma, têm um desempenho pífio e comprometem a imagem das instituições. Além disso, argumentam, o Provão não deve ser o único instrumento de avaliação da qualidade dos cursos. É preciso considerar os investimentos feitos pelas instituições em termos materiais e humanos.

Parte dos alunos, por sua vez, alega que as provas são malfeitas e que os resultados não refletem a qualidade e objetivo dos cursos. Como se vê, há quem não consiga responder a questões prosaicas, mas se sinta habilitado a questionar métodos de avaliação. Mal comparando, é como se fosse possível obter o título de doutor sem antes conquistar o de mestrado. Mas essa é uma outra questão.

Não deixa de ser curioso, embora não surpreenda, o fato de que os dirigentes da União Nacional dos Estudantes (UNE) estejam à frente das propostas de boicote ao Provão. Dada a presença maciça de universitários nas provas realizadas no dia 10 de junho, algo em torno de 94%, a maior desde que o exame foi criado, é lícito concluir que a esmagadora maioria dos estudantes não se sente representada pela entidade e, por isso, não segue a orientação de seus dirigentes. O que também não surpreende. Afinal, contra a vontade da maioria dos alunos que dizem representar, os dirigentes da UNE não admitem a possibilidade de perder o monopólio de emissão da "carteirinha" - uma espécie de passaporte que garante aos portadores o pagamento de meia-entrada em cinemas, teatros e uma série de eventos desportivos e culturais. Na verdade, o que eles querem é manter uma fonte fácil, embora ilegítima, de receita.

Não se pretende negar que o Provão, como qualquer outro método de avaliação, seja passível de aperfeiçoamentos. E o MEC está investindo nisso. Mas é interessante notar que, ao pregar o boicote à prova, a UNE não está defendendo o interesse da imensa maioria que estuda em instituições privadas, um contingente enorme de jovens que paga caro por um ensino muitas vezes de péssima qualidade. No limite, ao se colocar contra o Provão - cujo objetivo principal é avaliar a qualidade dos cursos e impedir que os de péssima qualidade continuem funcionando e enganando uma parcela considerável de universitários - , a entidade acaba se colocando na defesa daqueles que encaram a Educação como um negócio qualquer.

Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo.

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