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Opinião: Construir e conservar, eis a questão

"É a ponte que cai, o barranco que desaba, o edifício que vai ao chão; é o lixo que entope o bueiro, provocando inundações"
20/04/2012 18:10 | Vitor Sapienza*

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Outro dia, ao passar pela Marginal Pinheiros, um veículo foi atingido por um pedaço de concreto que se desprendeu de um viaduto. É claro que não é comum um fato desses. No entanto, não devemos deixar de admitir que, apesar de raro, é mais que possível que isso se repita. E o verbo é este mesmo, conjugado no tempo adequado, sem ironia, sem qualquer pretensão de sermos adivinhões.

Recentemente, em frente ao nosso escritório político, ocorreu o solapamento do terreno, e o aparecimento de um buraco. Três dias depois, uma equipe de funcionários de uma empreiteira lá esteve, e executou o remendo. Na verdade foi feito um remendo sobre outro, já existente. E, quinze dias depois, novo buraco, novos contratempos, mais poeira e interdição da rua, para que o problema fosse sanado.

E somente após a quarta vez é que o trabalho foi feito a contento. Um cano de esgoto, quebrado alguns metros abaixo do leito carroçável, era o responsável pelos problemas. Até então, o poder público pagava, se pouco ou muito, não sabemos, e a empresa fingia que resolvia o problema, jogando um pouco de terra, algumas pedras, e cobria com asfalto. Tudo certo, até o ressurgimento do problema.

Citei o fato para lembrar que não é a primeira e nem será a última vez que ocorreu o parcial desabamento de um viaduto nas marginais, na cidade, no Estado. Vários outros acontecimentos perturbam a nossa vida, e sempre atrelados ao descuido. É a ponte que cai, o barranco que desaba, o edifício que vai ao chão; é o lixo que entope o bueiro, provocando a inundação. É o buraco na calçada; é o buraco na rua, provocando o acidente...

Está mais que provado que somos capazes de grandes feitos, grandes construções, obras fantásticas. No entanto, tantos são os fatos recentes que somos obrigados a apresentar aquela pergunta indigesta: Será que a nossa capacidade de construir tem alguma relação com a nossa capacidade de manter, de conservar, de fiscalizar?

Construída em meados do século passado, a Via Anchieta, por exemplo, passa por seguidas reformas, e exige atenção constante contra a queda de barreiras, contenção de encostas, fiscalização das obras de arte. Bem sabemos que engenheiros de vários países aqui estiveram, e não aceitaram o desafio de construir uma rodovia unindo o Planalto à Baixada Santista, transpondo a Serra do Mar. Sem a tecnologia de hoje, a estrada ganhou fama e elevou ainda mais o conceito de nossa engenharia. O mesmo ocorreu com a Ponte Rio- Niterói, bem mais recentemente.

A nossa capacidade em construir está mais que provada. E os exemplos são muitos, em vários segmentos. No entanto, somos obrigados a conservar a nossa dúvida. Será que podemos ficar seguros com o trabalho preventivo, com a fiscalização, com a manutenção, com a conversação? O termo pode ser redundante, mas está na hora de criarmos a especialização nisso porque, tão importante como criar, é cuidar para que o desgaste do tempo não provoque estragos, e que esses estragos não nos causem dores. Em todos os sentidos.



*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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