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Opinião: Os custos da ação e da omissão

"Perdemos tempo, dinheiro, oportunidade, competitividade. O custo disso está no que não fizemos, ou no que foi feito com relativo ou total atraso?"
31/10/2012 18:14 | Vitor Sapienza *

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É comum, com o passar dos anos, ouvirmos pessoas dizendo que poderiam ter feito isso ou aquilo, este ou aquele curso, mudado de emprego ou até mesmo de casamento. O tempo nos ensina, nos aponta erros ou acertos, mas não nos dá a chance de recuperar o que passou. Mesmo que possamos refazer planos, recuperar metas, construir o que havia sido deixado para trás, na verdade o tempo perdido não se recupera, jamais.

O tempo tem um componente que pode ser associado a uma citação de Heráclito. que dizia que ninguém consegue se banhar duas vezes no mesmo rio. Sim, porque o momento é único e vivido com maior ou menor intensidade, com os mesmos componentes, com o mesmo conteúdo, nunca será igual, nunca será o mesmo.

Talvez o leitor estranhe o texto, partindo de um político com tantos anos de experiência. Vamos ao fato. Na verdade o que vamos abordar é a perda de tempo, e o custo disso. E o motivo está em um fato que posso constatar sempre que desço ao litoral, para os constantes contatos que mantenho com o pessoal da Melhor Idade, integrantes de um programa de lazer que mantenho no Guarujá.

É comum, principalmente na época das grandes safras, imensas filas de caminhões ao longo da estrada, esperando a oportunidade para carregar ou descarregar no porto. E isso acontece também em Vitória, em Paranaguá, e outros portos brasileiros.

E aí vem a pergunta do quanto deixamos de ganhar, o que perdemos, e o que poderíamos ter feito para evitar os atuais problemas. Nos anos 70, uma entidade particular, de armazéns e entrepostos aduaneiros do ABC, planejava construir terminais de containeres, no alto da serra e no porto de Santos.

A ideia seria montar uma espécie de teleférico, usando a gravidade e o sistema de contrapeso para agilizar o transporte de cargas. Os caminhões iriam até o alto da serra, e dali até o porto seria empregado o tal sistema. Não sei porquê o projeto não foi levado a adiante.

Também não podemos afirmar qual o principal motivo dos entraves nos nossos portos. No caso do Porto de Santos, além da constante necessidade de desassoreamento, até alguns anos predominavam os cartéis. Assim, em plena época dos containeres, da automação, da alta tecnologia - profissões como amarradores de cargas, guindasteiros, ensacadores, consertadores de carga, estivadores e até os tais bagrinhos ditavam as normas, emperravam as ações enquanto os navios esperavam no estuário, encarecendo toda a operação.

Nos aeroportos são vários os gargalos, muitos deles com a mesma origem do que ocorre nos nossos portos, ou seja, o poder de manipulação de algumas categorias de trabalhadores, a omissão do Poder Público, a falta de investimentos e o pior de tudo, a perda de tempo, de oportunidades.

Perdemos tempo, perdemos dinheiro, perdemos oportunidade, perdemos em competitividade. E entre perdas e mais perdas, voltemos ao texto, em seu início. O custo disso está no que não fizemos, ou no que foi feito com relativo ou total atraso?

Demoramos para construir estradas, ou ignoramos as ferrovias? Devemos investir no transporte ferroviário de matéria prima, enquanto cedemos o privilégio do transporte do produto acabado às empresas particulares?

Devemos condenar as nossas boas estradas, em que pese a existência de pedágios, ou voltar ao passado, com estradas medievais, travando o progresso e matando a nossa economia? Como se vê, são várias as perguntas, mas todas podem ser substituídas apenas por uma: o custo maior está no que foi feito, ou no que deixamos de fazer? Assim, qualquer que seja a resposta ela nos apontará sempre que o melhor momento é agora! O rio está em curso, em marcha, e cabe a nós a ação dos remos ou do acionamento dos motores. O que não podemos é perder tempo.



Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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