Opinião: Os sete desafios da educação

O mais rico Estado trata os profissionais da Educação com desprezo
23/05/2013 19:50 | Carlos Giannazi*

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O encerramento da última greve dos educadores da rede estadual pode ser um bom momento para reflexão. Aproveito a oportunidade e levanto alguns pontos críticos da Educação paulista, notadamente nos últimos 20 anos. São eles:

1. Descontinuidade É notória a fragmentação dos projetos prioritários de cada administração. Nenhum deles passa de uma gestão para outra: dos ciclos ao ensino médio integral, passando pela escola da família ou escola integral. O que se investiu na prioridade anterior perde-se na virada administrativa. Mudam-se o foco, a atenção e os gastos. Passam o primeiro ano da administração apagando os vestígios anteriores e organizando a nova prioridade. Os dois anos seguintes são para implementar a nova prioridade. No último ano, a energia é gasta para fazer os acertos midiáticos que a campanha exige. Que falta faz um Plano Estadual de Educação!

2. Desordem administrativa e centralização O gigantismo da máquina administrativa (quase cem diretorias regionais) tropeça em suas pernas. A máquina não anda. As informações são diluídas no meio do caminho. Há excesso de portos de passagem no trajeto. As diretorias de ensino não têm autonomia, tampouco iniciativa, e ficam à mercê das decisões centralizadas. Sequer decidem suas prioridades da melhoria da rede física. Muito menos sobre a tramitação de documentos da vida funcional dos servidores, perdidos em idas e vindas burocráticas. Uma certidão de tempo demora anos. Uma evolução funcional é uma incrível história sem fim.

3. Irresponsabilidade no uso do dinheiro público. São sucessivas, contínuas e desanimadoras as denúncias sobre superfaturamento, desvio do dinheiro, compras discutíveis e falta de transparência na prestação de contas pela FDE, o "braço armado e econômico" da Secretaria da Educação. Ninguém sabe, além do presidente da Fundação, do secretário da Educação e do governador, como esse dinheiro é gasto, porque e onde. Um verdadeiro descalabro e desrespeito ao cidadão contribuinte.

4. Baixos salários É redundância pleonástica falar disso. O mais rico Estado trata os profissionais da Educação com desprezo. Sem muitas palavras: a realidade basta.

5.Ausência de um programa contínuo de formação dos educadores Há muito se foi o tempo em que o diploma universitário dava conta da formação do educador para sempre. Isso ficou no passado e somente a educação pública paulista não considera isso. Programas fragmentados, centralizados e de pouca duração, centrados apenas no foco prioritário da administração, não dão conta da necessidade de formação contínua, ampla e frequente para que os educadores se sintam seguros na lida com as atuais demandas cognitivas e sociais.

6. Pobreza dos equipamentos físicos e didáticos. Os prédios, majoritariamente, estão velhos, detonados e mal estruturados. As quadras, a maioria, descobertas. Não há espaços para a pluralidade do conhecimento; apenas salas de aula desprovidas de outras informações. Sequer há " talvez nunca tenha havido " um programa de salas de leitura ou de bibliotecas escolares. Equipamentos novos que eventualmente chegam (quando chegam, lembremos do caso das antenas parabólicas) são muitas vezes subutilizados pela impropriedade do imóvel. E quando necessitam de reposição ou manutenção...

7. Falta de diálogo. Não falo aqui sobre a necessidade de se abrir uma discussão com os representantes sindicais por ocasião de movimentos de reivindicação. Esta, por imposição do jogo de cena, até existe. O desafio é abrir um diálogo problematizador, no sentido freiriano da palavra, em que os interlocutores são ouvidos e considerados, em que a síntese das conversas incorpore as falas de um e de outro. A negociação permanente é a base do diálogo. Não basta abrir espaços, dar a palavra para os diferentes segmentos e, para tomar decisões, ouvir apenas o que interessa. Não é fácil, mas é necessário.

Aí estão sete desafios para quem quiser efetivamente melhorar a educação pública no Estado de São Paulo.

*Carlos Giannazi é deputado estadual do PSOL e membro titular da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legisaltiva.

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