Opinião: Cassandra?

Agora que até no exterior começam a surgir notícias contrárias à postura da Fifa, podemos falar com maior exatidão sobre o que isso representa
03/07/2013 17:25 | Vitor Sapienza*

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Bem antes que as manifestações fossem para as ruas, nós advertíamos sobre os custos da Copa da Fifa, no Brasil. É evidente que os atuais protestos não se originaram nos preparativos para a competição, e nem podemos afirmar que ela é o ponto principal do que vem ocorrendo no país. Nunca tivemos tendência para cassandra, nem tampouco nos

colocamos como donos da verdade, mas algo estava nítido, desde que anunciaram que seríamos sede da principal competição futebolística mundial.

O luxo, as condições exigidas pela Fifa vão muito além do que sonham os pobres mortais, os que pagam impostos nos países que eles escolhem para fazer a sua, deles, festa. Sim, deles, porque para a nação que abriu as portas vai sobrar, como sempre, o custo, a limpeza da sujeira e o pior, a certeza de que não vale a pena aceitar as imposições daquela entidade.

Agora que até no exterior começam a surgir notícias contrárias à postura da Fifa, podemos falar com maior exatidão sobre o que isso representa. Os dados agora divulgados dizem que na última copa, na África do Sul, a Fifa teve um lucro de cinco bilhões de reais; e que no Brasil, o lucro será de dez bilhões. Ao mesmo tempo, diante da pressão das ruas, o governo brasileiro vem a público para admitir que, até o momento, foram gastos mais de R$ 28 bilhões.

Apesar de nossa larga experiência de homem público, de cidadão que acumulou algumas décadas de existência, fica difícil afirmar o que poderíamos ter feito com o que gastamos até agora, simplesmente para fazer uma copa do mundo. Não sei quantos hospitais, quantas escolas, quantas viaturas policiais, quantos médicos, policiais e professores poderiam ter os salários melhorados. Também não sei o que poderíamos ter feito para melhorar a nossa malha ferroviária, as redes de metrô, a pavimentação de nossas estradas.

Talvez o leitor estranhe que essas dúvidas permaneçam na cabeça de um político com larga experiência, como é o nosso caso. E temos que admitir que não apenas perdemos a noção das coisas, como temos a certeza de que isso não aconteceu apenas conosco, aconteceu com os que se beneficiaram, da Fifa às empreiteiras, dos donos de hotéis à mídia, das

empresas patrocinadoras ao governo. E ele, o governo, uma vez mais se preocupou em voltar no tempo, e aplicou a velha mania de dar circo ao povo. O pão ele vem dando há muito tempo, seja ele em forma de vale-refeição, ou bolsa-família; o título, tanto faz.

Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado. Acesse www.vitorsapienza.com.br

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