Opinião - Atitudes radicais


29/08/2013 17:22 | Vitor Sapienza*

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Nos protestos realizados recentemente, ouvi um jovem que, de face coberta por uma camiseta, gritava palavras de ordem contra os policiais e os ofendia, enquanto mostrava a perna atingida por uma bala de borracha, disparada pelos agentes do batalhão de Choque. Em que pese defendermos o direito de protestar, temos que acrescentar alguns comentários que, apesar de decorrido o tempo, ainda permanecem atuais.

O protesto é válido e aceito, uma vez que o descontentamento atinge todo o país, e vai muito além da simples reivindicação de uma redução no aumento do transporte público, como foi amplamente divulgado. O tema foi apenas um pretexto, porque o conteúdo era totalmente diferente da embalagem. A população foi às ruas contra a carência na saúde, segurança, transporte, gastos exagerados com a Copa da Fifa, contra a violência, contra a impunidade.

Voltemos à postura do jovem de face coberta. Com a mesma voz enérgica que bradava contra as injustiças, ele avançou contra o patrimônio público e privado, portando paus e pedras, e ajudou na destruição que acabou manchando a manifestação realizada na Avenida Paulista. Depois, contido e mostrando a perna atingida, ele postava-se como vítima indefesa, ignorando o que havia feito e os danos praticados.

Quem pratica esportes radicais, ou adota as tais profissões de risco, sabe perfeitamente os perigos ali contidos. Sabe que, mais que adrenalina, muitas vezes a paixão pela conquista pode ter um custo muito alto. Assim é com a carreira do policial, que pode ser vítima do crime que costuma combater; do agente de trânsito que pode ser atropelado; do caminhoneiro que vive pelas estradas; do jornalista que atua em um campo de batalha; do cirurgião que pode sofrer uma contaminação durante o seu trabalho; e do atleta que pode ter a carreira encerrada por um acidente no esporte.

Em que pese ser algo diferente, a postura do tal manifestante também se encaixa no contexto. Quando adota o anonimato e esconde a face, quando foge dos objetivos da manifestação, e parte para o vandalismo, ele também se encaixa na condição de vulnerável, e quando surpreendido tem que pagar o preço de seus atos. E aí está a grande diferença: uns adotam o risco a serviço da sociedade e podem se tornar heróis. Outros adotam a irresponsabilidade e vão ao encontro do menor esforço, e morrem no anonimato, mesmo deixando o rastro de sua inconsequência.

*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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