Opinião - Complacência ou omissão?


12/12/2013 12:06 | Vitor Sapienza*

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Graças ao espírito religioso que sempre norteou as nossas ações, desde a nossa infância fomos orientados a ter compaixão dos nossos semelhantes. E essa postura nos permite ser menos exigentes, complacentes em determinadas situações e, em alguns casos, ingênuos a ponto de pensar que não existe maldade por parte de quem pode estar se beneficiando de nossa maneira de agir. E muitas vezes essa compaixão nos coloca na condição de incautos.

Sempre procuramos ajudar a melhorar a situação dos nossos semelhantes, assim como entender o alto número de pessoas carentes nas ruas e as dificuldades enfrentadas pelas camadas mais humildes da população. No entanto, quando vemos o acentuado aumento de pessoas fazendo barracas nas ruas, nas calçadas, invadindo imóveis, áreas em região de proteção de mananciais, jovens sujando paredes com pichações, praticando toda espécie de vandalismo, começamos a questionar a nossa postura.

Será que, em nome da carência, temos que aceitar tudo o que vemos nas ruas de nossas cidades? Não estaria havendo muito abuso no tratamento da coisa pública? Será que, em nome da luta de uma minoria, a maioria tem que permanecer calada? Será que em nome do protesto nem sempre justo de meia dúzia, milhares de pessoas devem permanecer silenciosas, presas em imensos congestionamentos?

Ainda continuando com os nossos questionamentos, não estaria ocorrendo uma inversão de valores, quando em respeito à luta de uns, a sociedade como um todo permanece confiando no bom senso dos que manipulam e desrespeitam os nossos direitos? Vejamos um exemplo muito fácil de ser citado. Há semanas, um grupo de manifestantes se instalou na calçada da mais importante Casa de Leis, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Sem a mínima preocupação com a poluição visual, com a higiene, com a segurança dos pedestres que são obrigados a andar pela rua, esses tais manifestantes montaram barracas, encheram os arredores com faixas e frases de protestos, e não estão nada preocupados com a cidade. E aí vem a nossa última pergunta: quem trabalha, quem tem uma família para sustentar, quem tem obrigações com a família, tem tempo para fazer esse tipo de coisa?

Certamente que não! Em nome de uma luta política, quase sempre sem ideais, ou objetivos definidos, meia dúzia assume o comando de grupos de ingênuos e partem para as ruas desrespeitando a lei, provocando prejuízos à população, destruindo bens públicos e privados, em total desrespeito dos direitos de outros. E, a qualquer reação por parte do poder público, esses grupos tentam reverter o quadro, postando-se como vítimas.

O que eles procuram, e está visível isso, é a existência de um mártir e, a partir de então, ter motivos a mais para continuar com o banditismo que vem caracterizando boa parte dessas manifestações. A liberdade e os nossos direitos terminam onde começam os direitos dos nossos semelhantes. Isso é ouvido rotineiramente, mas não é colocado em prática por esses tais manifestantes. O protesto, quando pacífico, é valido, desde que respeitados os direitos dos semelhantes. No entanto, essa procura por um mártir poderá trazer dores muito maiores, já que essa experiência já vivida por nós, mostrou-se extremamente dolorida e esperamos que jamais se repita.

*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado. Acesse: www.vitorsapienza.com.br.

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