13 de dezembro é Dia do Marinheiro


13/12/2013 18:22 | Antonio Sérgio Ribeiro*

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Quadro retratando cena da batalha do Riachuelo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg157436.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Dom Pedro II<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg157437.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Encouraçado Tamandaré<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg157438.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Cena da batalha do Curuipati<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg157439.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Amirante Tamandaré, patrono da Marinha brasileira<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg157440.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Nesta edição, o a Agência de Notícias da Assembleia transmite a segunda parte do artigo do pesquisador Antônio Sérgio Ribeiro sobre a biografia do almirante Tamandaré, patrono da Marinha brasileira.



Na Europa

A 14 de março de 1847, foi graduado no posto de capitão-de-mar-e-guerra, e incumbido de dirigir a comissão encarregada da revisão do regimento provisional da Marinha. Mas, não demorou muito nessa missão, foi designado para ir para a Inglaterra a fim de trazer para o Brasil a fragata D. Afonso, - um navio misto, a vapor e a vela, - que estava sendo terminada de construir nos estaleiros de Liverpool. Movida com possantes rodas laterais e poderosos canhões, era uma inovação para a Marinha de guerra brasileira.

A embarcação de grande porte foi lançada ao mar, para experiência oficial, em 24 de agosto de 1848, e contou com a presença da princesa de Joinville, dona Francisca, irmã de D. Pedro II, e o seu marido, o príncipe François Ferdinand Philippe Louis Marie d"Orléans, este filho de Luiz Felipe I, rei da França, que se encontravam na Europa, os duques de Aumale e o chefe-de-esquadra da Marinha brasileira John Grenfell. Por volta das onze horas da manhã, quando navegava em experiência, um marinheiro deu o alarma de um navio em chamas. Era a galera norte-americana Ocean Monarch, que transportava 396 pessoas, a embarcação levava imigrantes de Liverpool para Boston, nos Estados Unidos.

A princesa aflita implorou que Marques Lisboa salvasse os ocupantes da galera, ele já havia resolvido intervir no socorro. Do vapor brasileiro partiram céleres os botes salva vidas, tendo sido salvos 156 que estavam a bordo e outras sessenta que se tinham atirado ao mar. O ministro brasileiro (hoje embaixador) em Londres enviou 100 libras esterlinas, por ordem de D. Pedro II, para serem divididas entre a tripulação. Lisboa explicou a situação dos tripulantes e dos passageiros do navio sinistrado, e assim todo o dinheiro foi doado às vitimas. O governo britânico ofereceu a Marques Lisboa um belíssimo cronômetro de ouro, com a seguinte inscrição: "In commemoration of his gallant exertion on this melancholy occasion".

De regresso ao Brasil com o vapor D. Afonso, em sua primeira escala, no porto de Recife, encontrou a revolta que tomaria a denominação de Praieira, que eclodira a 7 de novembro de 1848. No comando de um contingente de desembarque dos navios legalistas atacou os revoltosos. No meio do combate deparou com um pelotão de fuzilamento que se preparava para agir, e interviu, sustando a execução de dois homens, levando-os presos para o seu navio.

Um fato que o magoou, foi ter sido chamado ao Quartel General da Armada, para explicar a aquisição de um aparelho de jantar, finamente decorado, que havia adquirido na Inglaterra. Ele explicou que não podia receber a bordo os príncipes de Joinville, e faze-los comer na louça grossa de bordo. Revoltado com a suspeita de sua honradez resolveu pagar a compra de seu próprio bolso, e levar o aparelho como recordação do navio que comandava.

Na madrugada de 5 de março de 1849, uma violenta borrasca, um verdadeiro tufão varreu a costa do Rio de Janeiro, e a nau portuguesa Vasco da Gama, estava a deriva, e em perigo ao largo da barra. O navio D. Afonso partiu em socorro, cortando verdadeiros vagalhões, conseguiu após horas de esforços fazer estender um cabo de reboque, e a tarde a nau avariada entrava na baia da Guanabara, com toda a sua tripulação salva.

A colônia portuguesa do Rio de Janeiro, sensibilizada com o gesto heroico e nobre de Marques Lisboa, abriu uma subscrição entre seus membros, e ofertou-lhe uma espada de ouro, que hoje se encontra sob a guarda da Marinha do Brasil. Do governo de Portugal, recebeu a Ordem Militar da Torre e Espada, conferida pela rainha D. Maria II, irmã de D. Pedro II.

Em 14 de março de 1849, seria efetivamente promovido como capitão-de-mar-e-guerra, nesse posto participou entre 1851 e 1852, da Guerra do Prata contra o ditador argentino Juan Manoel Rosas, que ambicionava ter sobre sua influência o Uruguai e o Paraguai, e hostilizava o Brasil. Posteriormente o líder uruguaio Manuel Oribe apoiou Rosas, e ambos seriam derrotados por tropas brasileiras, que chegaram a tomar Buenos Aires, sobre o comando de Luiz Alves de Lima e Silva, o futuro duque de Caxias, na única vez que um exército estrangeiro marchou pelas ruas da capital da Argentina. Nesse confronto o Brasil teve apoio do governador da província argentina de Entre Rios, Justo José Urquiza, - posteriormente presidente de seu país, entre 1854 e 1860 -, que havia se rebelado contra Rosas, e dos militares uruguaios Eugenio Garzon e José Miguel Galán.

No dia 3 de março de 1852, foi promovido a chefe-de-divisão e nomeado Capitão dos Portos da Corte e da Província do Rio de Janeiro. Na noite de 7 de setembro, sob forte aguaceiro, foi obrigado a buscar um medicamento para sua esposa gravemente enferma, quando ouviu gritos vindo do lado do mar. Eram dois escravos que estavam se afogando. Ele se jogou na água e os salvou . No dia seguinte o dono dos escravos foi a sua casa para agradecer o gesto de bravura, e ofereceu-lhe, de presente, os dois negros. Ele respondeu ao proprietário, que então os liberta-se, pois não desejava possuir escravos.

A 2 de dezembro de 1854, recebeu a promoção de chefe-de-esquadra. No ano seguinte quando se encontrava a bordo da galeota imperial que levava os imperadores até a estação de trem, que os levaria a Petrópolis. D. Pedro II o apresentou a imperatriz Thereza Christina, e surpreso, ficou sabendo que havia sido nomeado, em 14 de março de 1855, para o importante e honroso posto de veador (oficial da Casa Imperial) da esposa do imperador.

No ano seguinte o governo do Império já previa sérias ocorrências envolvendo seus países vizinhos, e aproveitando que Marques Lisboa ia levar sua esposa enferma à Europa, para tratamento, resolveu incumbi-lo de providenciar a encomenda nos estaleiros europeus de novos navios para a Marinha brasileira.

No posto de vice-almirante, para o qual foi promovido a 2 de dezembro de 1856, cumpriu sua missão, revelando-se um administrador hábil, econômico e capaz. Ele seria considerado o responsável pela criação da nova Marinha de Guerra do Brasil, com modernos navios movidos a vapor. Na Inglaterra encomendou no estaleiro Green & Pitcher, oito canhoneiras, e na França encomendou mais duas marítimas e outras fluviais. Essas embarcações tomariam saliente participação no conflito contra o presidente do Uruguai Aguirre e na Guerra do Paraguai.

Regressando ao Brasil, foi nomeado membro efetivo do Conselho Naval por decreto de 24 de julho de 1858, e teve a incumbência de comboiar o vapor Apa, que conduziu a família imperial a uma visita as províncias do norte do país. Em 1º de outubro de 1859, partiram do Rio de Janeiro. Na volta, Marques Lisboa dirigiu-se ao Imperador Pedro II, e solicitou ao monarca a autorização para transladar para a capital do Império os ossos do irmão que se encontrava em porto Tamandaré, sendo de pronto autorizado.

No Rio, generosamente, D. Pedro II, determinou que fossem prestadas a honras de major a Manoel Marques Pitanga, apesar de ter combatido o seu governo, nas fileiras dos revoltosos da Confederação do Equador.

Tamandaré

O ministro da Marinha, Francisco Xavier Paes Barreto, em 1860, propôs ao imperador que fosse conferido a Joaquim Marques Lisboa, o titulo de barão do Rio do Grande do Sul, pelos inúmeros serviços prestados a pátria. D. Pedro II fez uma ressalva ao seu ministro, ao invés de barão do seu estado natal, que ficaria melhor que fosse concedido o de barão de Tamandaré, para que sempre ficasse na lembrança a viagem realizada com a família imperial e a saudade de seu irmão, morto heroicamente, o que foi concedido por decreto de 14 de março. Uma semana depois foi nomeado para o cargo de Conselheiro de Guerra, correspondendo atualmente ao de ministro do Superior Tribunal Militar.

Após regressar da Europa, onde fora buscar sua família, Tamandaré foi encarregado de reconhecer à costa sul do Cabo de Santa Marta, nesse período foi condecorado com a comenda da Ordem militar de São Bento de Aviz, e com a grã-cruz da Ordem Imperial da Áustria, e foi nomeado, em 25 de janeiro de 1862, Ajudante-de-Campo do Imperador Pedro II. Nessa função acompanhava o monarca na Fortaleza de São João, no bairro carioca da Urca, em 7 de agosto de 1863, onde foram assistir exercícios de artilharia, quando no sexto tiro uma bateria explodiu matando instantaneamente dois soldados e ferindo mais quatro militares, entre eles o general Francisco Xavier Calmon da Silva Cabral, futuro barão de Itapagipe, que fazia parte da comitiva imperial.

No dia 20 de abril de 1864, o barão de Tamandaré foi nomeado comandante-em-chefe das Forças Navais brasileiras. Tendo alguns dias depois içado o seu pavilhão de vice-almirante no mastro de seu navio capitânia, a corveta a vapor Niterói.

Uma nova crise se avizinhava, quando o autoritário presidente do Uruguai, Atanásio de la Cruz Aguirre Aguado , conhecido como Aguirre, desmandava-se provocações ao Brasil. Tamandaré foi enviado para lá, e encontrou o ambiente hostil, ainda mais agitado por influência de certos diplomatas estrangeiros. No dia 10 de agosto de 1864, foram expedidas ordens à nossa Marinha para exercer represálias. Joaquim Marques Lisboa montou seu acampamento com suas forças à frente das praças uruguaias, em Paissandu, Salto e Maldonado, sendo que as duas últimas foram logo subjugadas pelas forças brasileiras.

O assalto a Paissandu foi iniciado a 31 de dezembro, sendo o sinal dado por Tamandaré de bordo da canhoneira Araguaia. Com o rufar dos tambores e os tiros dos canhões foi comandado o assalto. O combate se travou em violento corpo-a-corpo, durou cinquenta e duas horas, e se desenrolou nas ruas de Paissandu, e os inimigos, sitiados, tiveram enormes perdas. A vitória sobre Paissandu abriu para as forças brasileiras o caminho de Montevidéu. Tamandaré a frente de uma poderosa esquadra, capitaneado pelo vapor Niterói, e mais nove embarcações de guerra, sitiaram a cidade, e Aguirre foi obrigado a deixar o governo, e assim realizou-se a paz. Dois dias depois da tomada da capital do Uruguai, D. Pedro II elevou Tamandaré ao título de visconde, com grandeza.

Na guerra do Paraguai

A apreensão pelo governo ditatorial do Paraguai do navio brasileiro Marquês de Olinda, que levava a bordo o presidente nomeado da província do Mato Grosso, o coronel Frederico Carneiro de Campos, em 11 de novembro de 1864, e um mês depois com a invasão das tropas paraguaias no território mato-grossense, culminou com a eclosão da Guerra da Tríplice Aliança - Brasil, Argentina e Uruguai -, mais conhecida como a Guerra do Paraguai. Tamandaré foi incumbido de organizar a retaguarda das forças brasileiras, e desenvolveu um trabalho vigoroso e competente, cuidando dos fornecimentos de toda a infraestrutura e apoio logístico, como o de alojar as tropas, fundar hospitais, armazenar combustíveis para a zona de guerra, que foram fundamentais para a vitória aliada. Ele estabeleceu também o bloqueio naval contra o Paraguai do ditador Francisco Solano Lopez.

Estudando a questão dos fortes paraguaios nos rios da região conflagrada, Tamandaré conseguiu convencer o governo da necessidade da construção de um encouraçado que fosse capaz de transpor as baterias das curvas de Humaitá, onde uma fortaleza paraguaia continuava inexpugnável, e em apenas 4 meses e 28 dias, a embarcação toda construída de chapas de ferro, sendo a primeira a vapor feita nos estaleiros da Ilha das Cobras pelo Arsenal de Marinha, e foi lançada nas águas da Guanabara, no Rio de Janeiro na tarde de 23 de junho de 1865, com a presença de D. Pedro II , de toda a família imperial, o ministério, e grande público, apesar do mau tempo. Esse navio recebeu o nome de seu idealizador, e ficaria famoso por suas proezas durante a Guerra do Paraguai.

A 21 de fevereiro de 1866, Tamandaré, assumiu o comando-em-chefe da esquadra, e quatro dias depois, em Corrientes, na Argentina, reuniu-se com os generais: o brasileiro Manoel Luiz Osório, o argentino Bartolomé Mitre e o caudilho uruguaio Venâncio Flores, e acertaram a invasão ao território paraguaio. Uma das questões levantadas era como transpor o caudaloso Rio Paraguai no chamado Passo da Pátria, que tinha a largura de 68 metros. Ele prometeu que iria fazer passar as tropas do exército aliado sem perder um único homem. Em doze horas foram colocados seus navios emparelhados entre as duas margens e assim fez uma verdadeira ponte, e toda a tropa atravessou sem nenhum problema.

A invasão do território paraguaio pelas tropas da Tríplice Aliança foi executada a margem do Rio Paraguai, meia légua acima da confluência do Rio Paraná. Ele comandou então a maior força naval que até então existente na América do Sul. Os paraguaios usavam chatas, para atacar os navios brasileiros, e por serem embarcações rasas e quase invisíveis a certa distância, acabaram causando algum estrago nos navios brasileiros. Tamandaré com sua esquadra arrasou as resistências inimigas e as varreu sobe forte fogo as margens do rio.

O alto comando resolveu atacar o forte de Curuzu, com as forças conjugadas do Exército e da Marinha, cabendo a Tamandaré iniciar o bombardeiro. A conquista do forte foi realizada após uma renhida luta, com grandes perdas dos dois lados, sendo escalado e tomado com arma branca.

Retorno ao Brasil

Nem tudo foi vitória. O desastre de Curupaiti veio estremecer as relações do almirante Tamandaré com o general Bartolomé Mitre, presidente da Argentina, então comandante-em-chefe das forças aliadas. Desgostoso com o ocorrido pediu licença para o tratamento de sua saúde, e em 22 de dezembro de 1866, retornou a bordo da fragata Niterói ao Rio de Janeiro, em companhia de seu comandado e amigo Francisco Manuel Barroso da Silva, o almirante Barroso, - grande vitorioso na Batalha do Riachuelo, que destruiu a marinha paraguaia, e mudou o curso da guerra, - sendo Tamandaré substituído no campo de batalha pelo chefe-de-esquadra Joaquim José Inácio, mais tarde visconde de Inhaúma.

A sua esposa durante sua ausência ocupou-se em recolher donativos e socorrer os órfãos dos soldados que combatiam no Paraguai. Ainda durante a guerra, em 21 de janeiro de 1867, foi promovido a almirante-de-esquadra, o mais alto posto da Marinha brasileira, por ato de imperador.

Após sua chegada a Corte, foi designado como encarregado do Quartel General da Armada e Inspetor do Arsenal da Marinha. Por carta imperial de 22 de junho de 1867, foi lhe concedida por Dom Pedro II, a Ordem da Rosa, no grau de Grã-Cruz de 1ª classe. Possuía também as medalhas de campanha Oriental, do Paraguai, Uruguaiana, de Mérito e da Boa Ordem, entre outras.

Quando completou 80 anos de idade, em 13 de dezembro de 1887, recebeu de seu amigo o imperador D. Pedro II, a sua elevação a conde, sendo lhe também conferida o colar da Ordem da Rosa, como o monarca havia feito com o duque de Caxias. No ano seguinte, em 16 de maio, recebeu o título de marquês. Sobre isso fazia um trocadilho com seu sobrenome. Quando o cumprimentavam chamando de marquês, ele respondia que era "Marques, um seu criado... apenas Marques".

Com a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, foi um dos poucos amigos, que foi se despedir do monarca deposto, que partiria para a Europa, e levou a D. Pedro II, o seu último abraço, e permaneceu ao lado da família imperial até o seu embarque definitivo para o exílio. O imperador resignado, disse-lhe: "É necessário que todos se esforcem para que o país se constitua quanto antes pacificamente".

Com o fim da monarquia, solicitou a sua reforma, que lhe foi dada pelo governo provisório através do decreto de 20 de janeiro de 1890, depois de mais de 66 anos de serviço efetivo, permanecendo então apenas a cumprir a sua missão de magistrado no STM, mas com a saúde abalada, solicitou sua demissão do cargo, em 4 de março de 1891, e que seria concedida dez dias depois. O governo da República teve a consideração e a elegância de lhe conservar todas as honras e benefícios inerentes à alta função que até então ocupava. Encerrou sua carreira militar após relevantes serviços prestados a Marinha e ao Brasil, e passou seus últimos tempos de vida, entre as flores do jardim de sua casa que ele mesmo cuidava.

Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré, faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de março de 1897, seu corpo simplesmente vestido com calça e sobrecasaca pretas, foi coberto com a bandeira do Império e ao lado a espada de ouro que lhe havia sido ofertada pela comunidade portuguesa quando do salvamento da nau Dom Afonso, em 1849. Após o velório seu esquife foi conduzido por seis marinheiros para um coche fúnebre, sobre ele, conforme seu desejo, uma âncora ornada de perpétuas, a flor da gratidão perene, cujas pétalas jamais fenecem, que havia recebido dos alunos da Escola Naval quando completou 85 anos de idade. Com grande acompanhamento foi sepultado no túmulo da família no Cemitério São Francisco Xavier, após os discursos comoventes do almirante Arthur Silveira da Mota, o barão de Jaceguai e do contra-almirante Ignácio Joaquim da Fonseca. Em 1994 seus restos mortais, juntamente com os de sua esposa, foram transladados do monumento em sua homenagem localizado na Praça Nicarágua, no Rio de Janeiro, para a cidade gaúcha de Rio Grande - onde nasceu - a bordo da fragata Niterói, e depositados em 17 de dezembro solenemente no panteão localizado no Espaço Cultural do 5° Distrito Naval, especialmente construído pela Marinha do Brasil.

Em seu testamento escreveu:

"Como homenagem à Marinha, minha dileta carreira, em que tive a fortuna de servir à minha Pátria e prestar alguns serviços à humanidade, peço que sobre a pedra que cobrir minha sepultura se escreva: Aqui jaz o velho marinheiro!"

*Antônio Sérgio Ribeiro, advogado e pesquisador. É diretor do Departamento de Documentação e Informação da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

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