Opinião: Um quadro a ser revertido


02/04/2014 18:19 | Vitor Sapienza*

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Durante os nossos deslocamentos nesta São Paulo, passamos pelo antigo Carandiru, onde foi construído o Parque da Juventude. Apesar da amplitude do lugar, da excelente localização e do estado de conservação, percebe-se que o parque retrata a frieza da grande cidade e não deixa de mostrar, também, o lado mais triste e que vem se acentuando em nosso país: o crescente número de pessoas sem teto que fazem das ruas a sua moradia.

Exceto o Ibirapuera, a grande maioria dos nossos parques já deixou de atrair turistas; mesmo os moradores de nossa cidade já estão evitando os lugares públicos, onde a miséria humana expõe com todas as suas cores a figura de verdadeiros zumbis. Um quadro muito diferente do que vemos à noite, nas novelas que norteiam as mentes de boa parte de nossa sociedade, uma sociedade com os olhos na tela e pensamento no espaço sideral.

O que vemos na maior cidade brasileira vai se expandindo e começa a virar rotina até nas pequenas cidades de todo o país. A falta de moradia, a desestruturação familiar, o consumo de drogas lícitas e ilícitas fizeram nascer outro tipo de carente, o sem-perspectivas. Nessa somatória de tragédias percebe-se que o nosso horizonte vai ficando cada vez mais restrito e, usando a linguagem do esporte, no ranking da qualidade de vida já estamos na lanterninha.

Não é necessário ser um gênio para perceber que o quadro precisa ser revertido, que a situação é insustentável. Também não se exige muita inteligência para perceber que o quadro preocupante tende a piorar. Sim, porque pelo andar da carruagem, sem medidas radicais não chegaremos a ponto algum.

É nítido que, sem uma política eficaz de controle de nossas fronteiras, proibindo o tráfico de drogas e armas, sem investimentos maciços na educação e na formação de gestores para esse setor; sem uma severa política e adequação de leis voltadas para a segurança, sem saneamento público, sem uma política de incentivos para investimentos na moradia popular, sem mudanças drásticas na legislação com a compulsória internação dessas infelizes, fica difícil acreditar em mudanças.

Somado a tudo isso e contrariando o governo, a classe política e as religiões, principalmente as religiões, sem um rígido controle de natalidade a situação que já é insustentável, jamais será revertida. E as nossas ruas e praças, hoje transformadas em vitrines de desgraças, serão oficializadas como palcos de dramas e tragédias, abertas a todos os incautos ou os corajosos, ou os que tiverem estômago para se aventurarem por esses recintos.

*Vitor Sapienza é deputado estadual pelo PPS, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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