Opinião: O Brasil precisa de uma "febre educacional"


25/06/2014 16:30 | Rafael Silva *

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Já dizia o estadista Leonel Brizola: "A educação é o único caminho para emancipar o homem. Desenvolvimento sem Educação é criação de riquezas apenas para alguns privilegiados".

Infelizmente o Brasil continua demonstrando total desrespeito ao tema educação. Se não bastasse o abandono das escolas públicas, o profissional não tem nenhum estímulo para lecionar, ou seja, ele sofre diariamente para continuar levando conhecimento para os alunos. Entre outros pontos, a valorização da Educação passa, obrigatoriamente, pela recuperação do salário do professor e de todos os envolvidos nessa área.

Para comprovar o que se diz, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) acaba de divulgar uma pesquisa na qual aponta que os professores brasileiros de escolas de ensino fundamental gastam, em média, 25 horas por semana só com as aulas. O número é superior à média de aproximadamente 30 países, como Finlândia, Coreia, Estados Unidos, México e Cingapura. Nessas nações, os professores gastam, em média, 19 horas por semana ensinando em sala de aula, ou seja, um porcentual 24% menor. A posição brasileira é inferior apenas à do Chile, onde os professores gastam quase 27 horas em aulas.

O docente brasileiro, contudo, usa até 22% mais de tempo que a média dos demais países em outras atividades da profissão, como correção de tarefas de casa, aconselhamento e orientação de alunos. Todos os dados são da mais recente Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) divulgada na França.

A pesquisa também quis saber do professor quanto tempo de aula é voltado, efetivamente, para a aprendizagem. E o número é pouco animador para nós. Mesmo com uma carga de 25 horas de aulas por semana, mais de 30% do tempo desses encontros regulares são desperdiçados em tarefas de manutenção da ordem dentro da sala e em questões burocráticas, como o preenchimento de chamadas e outras atividades administrativas.

Só o tempo gasto para pôr "ordem na bagunça" dos estudantes representa 20% do total da aula. Com serviços administrativos, são gastos 12%. De aula mesma, ou seja, atividades de aprendizagem, o professor dispõe apenas de 67% do tempo. É a pior situação entre todos os países avaliados. Na média dos países pesquisados, quase 80% são voltados, exclusivamente, para a aprendizagem.

É necessária, portanto, a criação de uma "febre educacional". Fazer exatamente o que as autoridades fizeram na Coreia do Sul, que nos últimos 40 anos se tornou um dos maiores PIBs da Ásia. O foco na educação é apontado como um dos pontos fundamentais do destacado desenvolvimento coreano. O ensino naquele país é tido como modelo para o mundo. O presidente Barack Obama pediu que os Estados Unidos seguissem o exemplo das crianças sul-coreanas, que passam, na média, pelo menos um mês a mais nas escolas anualmente do que os alunos norte-americanos.

E se comparassem com os alunos brasileiros que precisam de tempo destinado só para "organizar a bagunça" na sala de aula?

Enquanto o Brasil não serve de exemplo para o mundo, pela falta de investimentos em saúde, educação, segurança pública e demais importantes setores, temos que ficar assistindo a outros países, com muito menos poder de investimento, realizarem projetos que remodelam todo um segmento.

Volto a citar Leonel Brizola, que deixou no Rio de Janeiro exemplos claros de como oferecer educação com qualidade. Já que faltam condições para algumas autoridades criarem maneiras de melhorar a educação, que copiem aquilo que foi feito de bom. A única certeza que tenho é de que o Brasil só conseguirá ter destaque mundial quando investir, de verdade, na educação das nossas crianças e na valorização de seus mestres, que hoje são menosprezados.

* Rafael Silva é deputado estadual pelo PDT.

alesp