opinião - Programa social precisa ter porta de saída


11/11/2014 12:03 | Aldo Demarchi*

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Diante da repercussão das recentes declarações que fiz a respeito do programa Bolsa Família, considero oportuno esclarecer alguns pontos que podem ter causado dúvidas ou interpretações distorcidas. Não o faço em resposta àqueles que, por ódio, rancor ou qualquer outra motivação rasteira, separam uma parte do todo e tentam denegrir a imagem que construí ao longo de quase quarenta anos de vida pública. Devo satisfações primeiramente ao Criador, depois à família, aos amigos e aos eleitores que me concederam o sexto mandato consecutivo.

Quem acompanha minha trajetória pessoal e política sabe que sempre busquei a coerência e fidelidade de princípios. Herdei essas características de meu pai, Isidoro Demarchi, homem honrado, cidadão exemplar e operário que criou nove filhos com o fruto do seu trabalho.

Aqueles que me conhecem também sabem que jamais fui favorável às ações de governo que provoquem dependência praticamente infinita e favoreçam a prática do clientelismo. Nesse sentido, destaco pelo menos três fatos que ilustram bem a visão que tenho a respeito da condução de programas sociais.

Recordo que na época em que minha esposa, dona Candinha, era vice-prefeita e secretária de Ação Social em Rio Claro, todos os meses formava-se uma fila de desempregados para retirar cesta básica. Foi criado então o "Programa de Capacitação para o Trabalho", onde os participantes " apelidados "azuizinhos" - prestavam serviços de manutenção das ruas e frequentavam cursos de qualificação profissional. Em troca, além da cesta básica, ganhavam um salário mínimo, duas peças de uniforme e artigos de higiene pessoal e limpeza. O prazo máximo de permanência era de dois anos e cerca de 90% dos inscritos saíam de lá empregados.

Outro exemplo é o restaurante Bom Prato. Quando lutei pela instalação em Rio Claro uma das preocupações foi a de que sua implantação ocorresse em parceria com entidade assistencial para garantir a transparência e a lisura nos procedimentos. Isto sem contar o fato de que as refeições, embora a preços considerados simbólicos, são pagas pelos usuários, o que não impede à instituição gestora de oferecer por sua conta alimentação, banho e roupa limpa em casos de extrema pobreza.

Registro ainda que cerca de nove em cada dez emendas parlamentares que apresento na Assembleia são destinadas a entidades voltadas a idosos, crianças e famílias carentes em geral, pois sei que atuam com seriedade e autonomia.

Finalmente, quero ressaltar que a sugestão de suspender temporariamente o título de eleitor dos cadastrados no Bolsa Família teve como objetivo maior forçar o debate sobre a necessidade de que não se tenha apenas uma porta de entrada, mas que se ofereçam mecanismos de saída aos participantes para que possam viver com dignidade. Ou será que o governo que aí está pretende continuar a explorar indefinidamente a condição precária de parte do povo brasileiro e a utilizar a estratégia de que nas eleições "pode se fazer o diabo"?

* Aldo Demarchi é deputado estadual do DEM

alesp