Nesta quinta-feira, 18/12, a Comissão Parlamentar de Inquérito constituída com a finalidade de investigar as violações dos direitos humanos e demais ilegalidades ocorridas nas universidades do Estado de São Paulo durante os chamados trotes, festas e cotidiano acadêmico, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), reuniu-se para ouvir depoimentos e deliberar sobre requerimentos. Duas alunas da USP relataram sua participação na última reunião do Conselho Universitário (CO), no dia 9/12, quando foi discutido o orçamento para o próximo ano e também aprovada a desvinculação do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC), de Bauru. Aluna de Nutrição, Vanessa Del Castillo Couto falou da reação destemperada do reitor Marco Antonio Zago, ao ouvir suas colocações contrárias à privatização de serviços e contestatórias ao suposto aumento do orçamento da universidade para a permanência estudantil e auxílio financeiro aos estudantes. A aluna de Relações Internacionais, Gabriela Terra, também um dos membros discentes do CO, disse que o reitor Zago considerou esta CPI um "auto de fé" visando manchar a imagem da instituição, e tentou desmoralizar seu depoimento. Falou que também teria havido repúdio à CPI por parte do diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Carlos Carlotti Junior. Ficou claro, segundo Gabriela, que a USP continuará a acobertar os casos de violações aos direitos humanos, pois em plena reunião do CO houve desrespeito às alunas, que tiveram suas falas cortadas. Marco Aurélio de Souza (PT) confirmou com a depoente a informação de que o aumento numa das vinculações orçamentárias, contestadas por Vanessa, "eram o dobro da metade", pois haviam sido cortadas em ano anterior. A deputada Sarah Munhoz (PCdoB) disse que dois vídeos feitos pelos alunos na reunião do CO, exibidos na CPI, mostram abuso de poder e assédio. É preciso obter a transição total da reunião, o que foi endossado pelo presidente Diogo. Humanização do parto Por videoconferência, a professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, Simone Diniz, denunciou um caso de violência obstétrica ocorrida no Hospital Universitário. Contou que durante o parto, a paciente Mary Dias foi submetida a duas episiotomias apenas para que estudantes praticassem o procedimento. Essa prática é condenada atualmente, por causar danos à mulher, configurando um desrespeito aos direitos sexuais e reprodutivos da paciente. Falando em nome da Associação Artemis, a professora Vanessa Couto defendeu a humanização do parto, pois a mulher tem tido seus direitos violados, ao ser submetida a procedimentos inúteis, condenados por convenções internacionais. A associação recebe muitas denúncias de violência obstétrica como o caso citado, disse. "Existe reprodução do comportamento abusivo no ambiente hospitalar, que começa nos trotes violentos e trazem comportamentos de dominação e autoritarismo dos médicos durante o parto". Vanessa Couto lembrou que a episiotomia ainda é procedimento de rotina em hospitais, servindo apenas para apressar o parto. Ela ressaltou que todo procedimento médico tem de ser autorizado pela paciente, o que não é feito. Foi exibido vídeo com o depoimento de Mary Dias em audiência pública no Ministério Público. A paciente relatou os procedimentos a que foi submetida no parto e que prejudicaram sua saúde. Mary afirmou que se sentiu um objeto durante o nascimento de seu filho, e defendeu que os hospitais permitam a entrada das doulas, que humanizam o parto. Carlos Bezerra Jr. (PSDB), médico-obstetra, citou casos excepcionais em que a episiotomia é aceitável. Ele apresentou o Projeto de lei 712/2013, que assegura o direito ao parto humanizado nos estabelecimentos públicos de saúde do Estado, e lutará por sua aprovação ainda hoje. Requerimentos A CPI aprovou requerimentos apresentados por Diogo, dois deles convocando para depoimento o professor-doutor da área de Radiologia da Universidade Federal de São Paulo, Roberto Gomes Nogueira, e o estudante da FMUSP, Lucas Faraco Sobrado. Também foram aprovadas a requisição das prestações de contas do Show Medicina entre os anos de 2011 e 2014, incluindo o livro de ouro e também informações sobre como se deu o pagamento da multa imposta pela Prefeitura de São Paulo em razão do vandalismo feito para divulgar a festa. Também foi aprovado o pedido de envio, pelo Ministério Público Estadual, do relatório sobre a morte do calouro de medicina Edison Tsung Chi Hsue, em 1999, durante trote. Foram aprovados também dois requerimentos de oitiva sigilosa de duas testemunhas. Diogo novamente divulgou o email para denúncias - cpi.universidades@al.sp.gov.br -, e disse que tanto o áudio quanto as imagens das audiências públicas poderão ser requisitadas. Comunicou ainda que a próxima audiência será no dia 8/1/2015. Acompanhou a reunião também o deputado Dr. Ulysses (PV).