Opinião: Medicina na UTI


15/02/2017 14:03 | Pedro Tobias*

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É extremamente preocupante o resultado do exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) apontando que mais da metade dos recém-formados em escolas médicas paulistas não alcançaram a nota mínima em 2016. Ou seja, acertaram menos de 60% das 120 questões da prova.

Pior que o resultado alarmante do ano passado é uma tendência registrada nos últimos dez anos, com exceção de 2015. Nos demais anos da avaliação, o índice de reprovação ficou acima de 50%.

Como nos anos anteriores, as escolas médicas paulistas privadas tiveram maior percentual de reprovação que os cursos públicos. No entanto, houve aumento importante de reprovação em comparação ao exame de 2015 entre os egressos das instituições públicas, passando de 26,4% para 37,8%. Já entre os cursos de medicina privados, 66,3% dos alunos foram reprovados em 2016, também superando os resultados de 2015, com 58,8%.

A queda na qualidade é significativa e mais da metade dos novos médicos entra no mercado de trabalho sem ter conhecimentos básicos de situações cotidianas do atendimento à população. Muitos recém-formados demonstraram no exame do Cremesp não saber interpretar exames de imagem para diagnosticar e administrar a conduta terapêutica adequada a casos frequentes, como crises hipertensivas e doenças respiratórias.

Ressalto que o exame do Cremesp vem sendo realizado desde 2005 com o objetivo de avaliar a qualidade da formação dos novos médicos nas instituições paulistas e, desde 2015, a participação no exame passou a ser critério para acesso a importantes programas de residência médica e também para participação em concursos públicos nos âmbitos estadual e municipal.

Também é importante frisar que a maioria da população defende a realização de um exame que avalie os médicos antes de entrarem para o mercado de trabalho. Em outubro do ano passado, pesquisa encomendada pelo Conselho Federal de Medicina e realizada pelo Datafolha apontou que 86% da população defende avaliações regulares para melhorar o ensino da medicina.

Os resultados do exame do Cremesp devem contribuir para o debate sobre a qualidade da formação médica, sobretudo quando existe um grande número de escolas em funcionamento no Estado de São Paulo e outras 13 privadas já autorizadas pelo Ministério da Educação. Antes, é preciso que haja condições éticas e profissionais para que o acadêmico realize seu estágio com supervisão e qualidade. É preciso que as escolas médicas, públicas e privadas, promovam melhorias nos métodos de ensino e imprimam mais rigor em seus sistemas de avaliação, pois os alunos-formandos são, infelizmente, vítimas deste processo perverso que pune os novos médicos e, consequentemente, seus futuros pacientes.

*Pedro Tobias é médico, deputado estadual e presidente do PSDB-SP

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