Opinião: Dia Internacional da Mulher: cerrar fileiras contra os retrocessos


07/03/2017 13:53 | Beth Sahão*

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O Dia Internacional da Mulher será sempre uma data de luta e resistência. Surgida a partir das grandes mobilizações das operárias no fim do século XIX e início do XX, a comemoração tem ajudado a aglutinar e impulsionar as forças do movimento feminista na busca por avanços e direitos para as mulheres no Brasil e no mundo.

Desde que conseguimos derrubar as primeiras barreiras impostas pela sociedade machista e patriarcal " seja alcançando o direito de votar e ser votadas, seja abrindo as portas para milhões de trabalhadoras ingressarem no mercado de trabalho ", podemos observar uma evolução constante, ainda que às vezes lenta, no que tange aos nossos direitos.

Isso só foi possível porque mulheres têm se mobilizado e lutado com afinco por mudanças. Nos últimos tempos, no entanto, temos notado, com grande preocupação, um movimento que se dá em sentido contrário e que procura conter os avanços que obtivemos a duras penas.

Até algum tempo atrás, esse processo ocorria de maneira difusa e mesmo um tanto envergonhada. O reacionarismo sempre esteve lá, só que carecia de uma voz definida e mesmo de discurso sistematizado. O patriarcado até conseguia conter o progresso das mulheres, mas não sem ceder terrenos em questões importantes, como comprovam os exemplos das cotas eleitorais para candidatas do sexo feminino ou mesmo das leis destinadas a punir com rigor os homens envolvidos em violência de gênero.

A própria ideia de uma mulher empoderada, dona de si e capaz de construir seu próprio destino, já não causava tanta estranheza à sociedade brasileira, pelo menos não de maneira escancarada. Mas isto pode estar em vias de mudar.

Pela primeira vez, em várias décadas, os reacionários articulam um ataque sistemático aos direitos das mulheres. Esta blitzkrieg (termo alemão para guerra-relâmpago) opera em diferentes níveis, inclusive na imprensa, na Internet e em alguns programas de humor, onde as lutas dos movimentos de mulheres são reiteradamente desqualificadas sob o adjetivo de vitimismo, com as feministas retratadas como histéricas, frustradas e que odeiam homens " e não como cidadãs conscientes de seu papel histórico e que desejam fazer valer seus direitos elementares.

Mais preocupante que isso é o bombardeio incessante que vem ocorrendo nas diferentes esferas governamentais, sobretudo a partir da posse de Michel Temer na presidência, que logo se incumbiu de montar um governo formado basicamente por homens brancos e ricos, cuja primeira composição não contava com uma mulher sequer em cargos de primeiro escalão.

Um exemplo claro dessa postura retrógrada e antifeminina foi a decisão absurda de Temer de rebaixar a Secretaria de Políticas para as Mulheres, que agora não tem mais status de ministério e, portanto, não possui autonomia para elaborar ações concretas em prol das brasileiras.

Atravessamos um período sombrio, em que um deputado federal utiliza a tribuna da Câmara para afirmar que não estupraria sua colega de parlamento porque ela "não merecia" e sequer é punido por esse gesto misógino. Em que a principal proposta do governo golpista para a economia consiste numa reforma previdenciária que obrigará as brasileiras a trabalharem até os 70 anos para poderem se aposentar. Em que um psicopata machista invade uma festa de réveillon para assassinar o próprio filho, a ex-esposa e diversos familiares dela (a maioria do sexo feminino) e, em uma carta repleta de rancor e preconceito, ainda se acha no direito de atacar as mulheres e suas tentativas de emancipação.

Todos esses fatos deixam claro que, mais do que nunca, o feminismo faz-se necessário em nossas vidas. Vamos, sim, celebrar o Dia Internacional da Mulher, com organização e mobilização, cerrando fileiras contra a escalada reacionária que ameaça nossos direitos e conquistas.

Beth Sahão é psicóloga formada pela Universidade Estadual de Londrina, tem mestrado em sociologia pela Universidade Estadual de São Paulo e é deputada à Assembleia Legislativa pelo PT

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