Opinião - Diretas Já: a única saída para retirar país do atoleiro


31/05/2017 19:30 | Beth Sahão

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O Brasil atravessa uma crise de legitimidade sem precedentes. Temos um presidente - Michel Temer, do PMDB - rejeitado pela maioria expressiva da população e cujos principais assessores (isto para não falar dele próprio) estão afundados até a tampa em denúncias de corrupção.

Alçado ao cargo graças às manobras de um presidente da Câmara que ora se encontra preso por corrupção, ele tenta impor ao povo brasileiro uma série de medidas que equivalem à destruição dos direitos básicos dos cidadãos.

Sua base de sustentação no Congresso só o apoia por conta de conchavos inomináveis. Contudo, a "fidelidade" desses deputados e senadores vai se esvaindo na medida em que Temer aparece como protagonista em escândalos assombrosos, sobretudo após a divulgação das gravações entregues à Justiça pelos irmãos Batista, donos do Grupo JBS.

Desde que foi pego com a boca na botija " reunindo-se com um empresário acusado de corrupção e tratando de uma infinidade de sujeiras, a começar pela "mesada" ao presidiário Eduardo Cunha -, Temer, que já era amplamente contestado pelos movimentos sociais e pela imensa maioria da população, passou a representar um sério incômodo para as elites que antes o sustentavam.

A questão que atormenta as classes dominantes consiste em: como pode um governo desprovido de legitimidade levar adiante as chamadas reformas? Não pode, e a prova disso é que, a partir da delação da JBS, todos os projetos de Temer encontram-se paralisados no Congresso.

Que Michel Temer converteu-se em um cadáver insepulto, isto ninguém nega. Diante de sua já anunciada queda, os setores conservadores " estes mesmos que apoiaram abertamente o impeachment de uma presidenta contra a qual não pesava qualquer acusação de crime de responsabilidade " agora se revestem de um legalismo de fachada, na esperança de impor eleições indiretas ao País.

Afirmam que a Constituição de 88 (essa mesma, que ultimamente vem sendo desfigurada, sob os aplausos efusivos das elites, por propostas que retiram direitos da população) não autoriza a realização de eleição direta para presidente faltando menos de dois anos para o próximo pleito " o que é mentira, pois há uma Ação Direta de Inconstitucionalidade sendo analisada pelo Supremo Tribunal Federal que abriria possibilidade para as Diretas Já.

O que as classes dominantes desejam, na verdade, é "mudar" para que tudo permaneça como está. Sabem que numa eleição direta são reais as chances de as chamadas reformas serem rejeitadas pelo eleitorado. Por isso, aceitam de bom grado substituir Temer por outro títere qualquer.

Do alto de seu desprezo pelos cidadãos comuns, querem nos empurrar uma "democracia" sem povo, um arremedo disfarçado sob o formalismo de interpretações canhestras da lei. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha de 30/4 deste ano, 85% dos brasileiros defendem a realização de eleições diretas para presidente.

Diante desse quadro, podemos questionar: é possível superar a crise de legitimidade política do País contrariando o anseio da imensa maioria da população? Perguntamos ainda: o povo aceitará, passivamente, os atos de um desconhecido qualquer escolhido por um Congresso cujos membros, em grande parte, também estão envolvidos em escândalos de corrupção e que, até o presente momento, continuam a apoiar o governo de Temer?

Nossa democracia não será salva por puxadinhos formalistas, sobretudo porque a condição básica para sua existência é o poder emanar do povo. Nesse sentido, somente as Diretas Já serão capazes de retirar a política e as instituições do atoleiro em que estão afundadas.

(*) Beth Sahão é deputada pelo PT

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