Encolhimento da indústria paulista vai embasar criação de frente na Alesp

Em seminário sobre os rumos da indústria estadual, sindicalistas, Diesse e BNDES também alertam para os impactos negativos do ciclo de desindustrialização que afeta o Estado
22/09/2023 19:42 | Seminário | Claus Oliveira - Foto: Carol Jacob

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Seminário indústria paulista<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2023/fg309511.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Seminário indústria paulista<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2023/fg309512.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Dep. Teonilio Barba<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2023/fg309513.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Seminário indústria paulista<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2023/fg309514.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O deputado estadual Teonílio Barba (PT) anunciou nesta quinta (21), durante o seminário "O Futuro da Indústria Paulista", já ter as assinaturas necessárias para criar na Alesp uma frente parlamentar para debater a política industrial paulista.

"A ideia é montar uma frente em defesa da indústria paulista, dos trabalhadores, das trabalhadoras e do trabalho decente", informou. "Para podermos pensar qual é o modelo de política industrial que queremos, levando em consideração que esse país tem 87% de capacidade de produzir energia limpa", disse Barba.

Ele antecipou que vai lutar pela ampliação da representatividade no Conselho Estadual de Promoção da Reindustrialização, instituído pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Barba lamentou a ausência de membros da Alesp e dos sindicatos da indústria no Conselho.

"Nosso desafio é tentar cavar um espaço para que os trabalhadores tenham representação dentro desse Conselho", destacou. Os deputados estaduais do PT Rômulo Fernandes e Paulo Fiorilo também marcaram presença no seminário.

Futuro da indústria

Composto por três mesas de debate, o seminário "O Futuro da Indústria Paulista" teve parceria de entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical (FS) e União Geral dos Trabalhadores (UGT).

Na mesa de abertura, o diretor do Sindicato dos Trabalhadores Energéticos (Sinergia), Carlos Alberto Alves, pautou a transição energética justa fazendo menção ao uso do hidrogênio na mobilidade automotiva.

O secretário-geral da UGT, Rogério Magri, disse que São Paulo caminha para se transformar em capital de serviços em detrimento do setor industrial. "Não vamos mais falar com recursos humanos, vamos conversar a inteligência artificial e com os algoritmos", ponderou Magri, ex-ministro do Trabalho no Governo Collor.

Pelo Sindicato dos Metalúrgicos, Carlos Augusto dos Santos enumerou que o destino da indústria paulista requer o debate sobre pontos como guerra fiscal e inovação tecnológica.

Já Raimundo Suzart, presidente da CUT, comentou os impactos negativos da migração industrial na empregabilidade. "São Paulo não gera postos de trabalhos novos, quando muito repõe uma parte. A indústria que fechou e a que foi embora, esse trabalho não tem como repor", argumentou.

Diagnóstico e reindustrialização

O economista Fernando Lima, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), traçou um diagnóstico da indústria paulista, amparado em dados de 2021. O estado responde por 28% do segmento industrial brasileiro e por 30% dos trabalhadores desse setor. A massa salarial estimada pelo Dieese supera a marca mensal de R$ 11,5 bilhões.

Na balança comercial, as exportações da indústria paulista movimentaram 54,2 milhões de dólares. Já a arrecadação tributária com o ICMS, considerando apenas as indústrias extrativa e de transformação, aproximou-se de R$ 75 milhões.

"Então se se arrecada tanto por causa da indústria, tem que dar uma atenção especial para a indústria. É contraditório ter essa contribuição tão grande e não ter uma política efetiva para manutenção ou avanço desse segmento", frisou o técnico do Departamento.

O alerta do economista deve-se ao processo de encolhimento do setor industrial no Estado. "Entre 2011 e 2019, dos 100 municípios paulistas industrializados, em 92 a participação da indústria no valor adicional municipal diminuiu, perdeu o espaço", informou.

Além disso, o mercado de trabalho teve queda de 13,6% no período - o que equivale a 481 mil postos de trabalho fechados - e a massa salarial real, que é aquela descontada da inflação, diminuiu 22%.

"A indústria era 27% no Estado de São Paulo do ponto de vista da geração de riqueza e foi para 20,7%. Está diminuindo o seu papel na economia do Estado, está perdendo o protagonismo que já exerceu em outros tempos", disse. "Temos que nos movimentar para que esse ciclo seja interrompido", alertou Lima.

Na sequência, o presidente da IndustriALL Brasil (entidade que agrega Força Sindical e CUT), Aroaldo Oliveira, elencou ações governamentais para tentar reverter o quadro de desindustrialização no Estado paulista.

As medidas passariam, por exemplo, pela reorganização das cadeias produtivas, rearticulação do sistema de inovação tecnológica e ampliação e recriação de programas estaduais de fomento. "São Paulo é o coração da indústria brasileira ainda, mas vem perdendo relevância e de forma acelerada", sublinhou Aroaldo.

Necessidades e perspectivas

Um dos reflexos da desindustrialização é a redução na demanda da indústria paulista por empréstimo junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. "O que a gente percebe é que a queda de investimento costuma ser mais acentuada do que a queda de produção", declarou Thiago Miguez, economista da área de planejamento do BNDES.

Miguez acrescentou que o banco poderia emprestar mais, contudo a depreciação da economia nos últimos anos retraiu a procura. "Não teve investimento. Se a economia não investe, o BNDES não tem demanda para atender, mas a gente tem estrutura de capital para aumentar a participação na economia", disse Miguez.

O economista anunciou que o BNDES trabalha para baratear e ampliar o crédito com novas linhas, uma delas focada em inovação tecnológica. "Um programa específico voltado para aumento de produtividade via digitalização, mais ou menos R$ 5 bilhões por ano. Acho que vai ter bastante demanda para São Paulo."

Esse anúncio foi saudado pelo empresário André Silva, da Selco, empresa brasileira de usinagem de precisão que emprega 150 trabalhadores em São Bernardo do Campo. "Inovar é o futuro. Com a tecnologia atual é impossível competir com empresas de outros lugares", disse o executivo, entusiasta de inovação aberta.

Essa mesa foi coordenada pelos sindicalistas Erick Silva, da Federação Estadual dos Metalúrgicos (FEM/CUT) e Airton Cano, da Federação dos Trabalhadores do Ramo Químico (Fetquim).


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