Mais do que mel: o papel das abelhas para o equilíbrio ambiental e a produção de alimentos

No Dia Mundial das Abelhas, especialistas e criadores destacam importância das polinizadoras para a vida do planeta e a necessidade urgente de protegê-las
20/05/2025 16:00 | Dia Mundial | Fernanda Franco - Fotos: Gracinda Lima, Joana Pusceddu e Abelha Repórter/Acervo Pessoal

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Rafa Neddermeyer/Agência Brasil<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2025/fg345383.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Meliponicultor da espécie Jataí<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2025/fg345406.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Apicultura Abelha Repórter<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2025/fg345400.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Celebrado em 20 de maio, o Dia Mundial das Abelhas busca ressaltar a importância desses pequenos insetos na manutenção do equilíbrio ambiental e da segurança alimentar de todos no planeta. A data, estabelecida pela ONU em 2017, também alerta sobre o desaparecimento progressivo das abelhas nas últimas décadas.

"Sem abelhas, muitas frutas e plantas simplesmente não existiriam", afirma Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa e um dos principais nomes da meliponicultura no país. "Elas são fundamentais para a reprodução de grande parte das espécies vegetais", explica.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas, quase 90% das plantas silvestres que geram flores dependem da polinização animal. O mesmo ocorre com 35% das terras agrícolas globais. "A polinização é o principal papel das abelhas. Ao visitar as flores para obter alimento, que é o néctar e o pólen, elas transportam os grãos de pólen de uma flor para outra. Esse ciclo, muitas vezes imperceptível, é fundamental para a produção de frutos e sementes", explica Menezes.

Mas elas não são as únicas polinizadoras; borboletas, morcegos, besouros e beija-flores também possuem esse papel. "As abelhas têm uma relevância maior pela abundância e frequência dos sistemas de reprodução das plantas", aponta o pesquisador.

Abelhas nativas e abelhas exóticas

Atualmente, existem mais de 20 mil espécies de abelhas conhecidas no mundo - o número total ainda é desconhecido. Só no Brasil mais de 3 mil espécies já foram identificadas, dessas cerca de 300 são sem ferrão (meliponini).

A maioria das abelhas brasileiras são nativas, também conhecidas como abelhas sem ferrão ou melíponas. Já as mais conhecidas - as chamadas africanizadas ou europeias - são exóticas, compõem o gênero Apis e foram introduzidas no Brasil em meados do século 20. Apesar de serem mais abundantes no território, a maior diversidade de abelhas nativas do mundo está no Brasil.

"O mel da apis é o mais popular, porque é mais denso, estável e fácil de produzir em larga escala", diz o meliponicultor e educador ambiental no Parque Cientec, Luca Pusceddu. "Mas os méis das abelhas sem ferrão são únicos: mais líquidos, com menor concentração de açúcar e sabores marcantes. Há mel doce, azedo, fermentado, com notas de queijo e até alcoólicos", explica. Cada espécie produz um mel com identidade própria.

Pusceddu conta que começou a criar abelhas em fevereiro de 2020, por conta de uma demanda de trabalho. "Em duas semanas de pesquisa eu já tinha sido abduzido pelas abelhas. Não consegui parar mais", relata.

Quanto ao manejo, a ausência do ferrão facilita o processo, permitindo que muitas pessoas consigam ter meliponários em casa, assim como Pusceddu. No entanto, mesmo presentes em todo o território brasileiro, em colônias perenes geralmente abrigadas em ocos de árvores, as abelhas sem ferrão ainda são invisibilizadas. "A maioria das pessoas nem sabe que elas existem", lamenta ele.

Apicultura como vocação e renda

A paulista de Birigui, Raquel Vendrasco, mais conhecida como Abelha Repórter, é um dos rostos da nova geração do setor. "Comecei por amor, virei referência em três anos. Hoje, além de cuidar das colônias, dou palestras e conto as histórias das pessoas que vivem desse universo." Para ela, mais do que renda, criar abelhas é um propósito de vida. "É algo que você faz por carinho e faz por querer preservar", conta.

Vendrasco é apicultora, meliponicultora, estudante de Direito e criadora de conteúdo sobre abelhas. "A meliponicultura me mostrou o caminho das abelhas, mas hoje eu me encontrei na apicultura. Ela me desafia e me encanta ao mesmo tempo", diz.

Atualmente, ela concilia as três áreas de atuação, sendo as abelhas o fio condutor de todo seu trabalho. "Eu me descobri na apicultura. Essa profissão me desafia a ser um ser humano melhor, porque não adianta você falar que gosta de abelha e não querer plantar, sujar as unhas. Eu acordo pensando em abelha e eu vou dormir pensando em abelha", afirma.

Por isso, ela defende que pequenas ações fazem diferença para valorização desses insetos: "Plantar já é um grande começo. Às vezes a gente quer criar abelhas sem ter flor por perto, e isso não dá certo. A criação e o manejo de abelhas leva tempo". Outro ponto que ela destaca, em relação à área da apicultura, é trazer novas gerações para aprender, criar e manejar abelhas.

Ameaças reais e crescentes

O pesquisador da Embrapa, aponta que a principal ameaça no Brasil para as abelhas em geral é o desmatamento. "A gente tem hoje, em grande parte do país, ambientes inadequados para as abelhas porque há pouca mata disponível para elas obterem os recursos que elas precisam", explica. O Cerrado, Amazônia e Caatinga são os biomas mais afetados atualmente.

Além desse, o pesquisador destaca outros cinco principais fatores ao redor do mundo que ameaçam a existência das abelhas: perda de habitats; mudanças climáticas; competição com as espécies invasoras (abelhas exóticas podem representar uma ameaça quando há um manejo muito intensivo); transmissão de doenças; e pesticidas. "O uso indiscriminado desses produtos na agricultura é uma ameaça principalmente nas regiões onde se tem poucas áreas de habitat natural e o contato com a agricultura é muito próximo", diz Menezes.

Mais abelhas, mais futuro

A meliponicultura ainda engatinha como cadeia produtiva, mas carrega um enorme potencial ecológico, educacional e econômico. Para Menezes, o Dia Mundial das Abelhas é uma chance de colocar essas questões no centro da conversa: "É a oportunidade de valorizar um setor que pode beneficiar a agricultura, a conservação da biodiversidade e, ao mesmo tempo, gerar renda."

Mais do que mel, as abelhas oferecem equilíbrio ecológico. E, como reforça a Abelha Repórter, também um alerta: "É olhar o prato. A variedade do que tem ali. Vai faltar feira. E só vai haver comida enquanto houver abelha", relembra.

alesp