CPI da Nike faz balanço extra-oficial em reunião na Assembléia Legislativa


26/03/2001 19:24

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A CPI da Nike, constituída pela Câmara dos Deputados para apurar denúncias de irregularidades no futebol brasileiro, reuniu-se na Assembléia Legislativa de São Paulo nesta segunda-feira, 26/3, para realizar um balanço extra-oficial de suas atividades. A comissão concluirá a fase de depoimentos até o próximo dia 12 de abril, quando inicia o trabalho de elaboração do relatório final. Deverão depor nas próximas semanas, além do atual treinador do Corinthians, Wanderley Luxemburgo, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira; o ex-dirigente do Flamengo, Cléber Leite; e o presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo Farah. Também serão ouvidos representantes no Brasil das empresas Nike e Traffic.

Na avaliação do presidente da CPI, deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB/SP), a comissão já concluiu as apurações das denúncias de tráfico de menores e falsificação de passaportes de crianças brasileiras por parte de clubes europeus, e deve se concentrar, a partir de agora, "na investigação de contratos que atentam contra o interesse público e fazem a fortuna de empresários inescrupulosos".

Segundo o parlamentar, o futebol brasileiro movimenta cerca de US$ 16 bilhões por ano, uma cifra superior ao faturamento da indústria petroquímica nacional (US$ 11 bilhões) e duas vezes maior do que o orçamento anual da cidade de São Paulo. "Com todo esse dinheiro, fica difícil compreender como a maior parte das federações está falida, inclusive a CBF, deficitária desde quando começou a receber dinheiro da Nike", afirmou Rebelo. O deputado assegurou que, conforme o apurado pela CPI, há empresários cuja movimentação bancária supera os US$ 200 milhões.

Para o relator da CPI, deputado federal Silvio Torres (PSDB/SP), a comissão já reuniu todos os elementos para elaborar um relatório capaz de apontar os responsáveis pela crise do futebol. "São pessoas que se aproveitam da fragilidade de muitos jogadores", disse o parlamentar.

Para o deputado federal José Genoíno (PT/SP), além de já ter reunido material suficiente para ser entregue à apreciação da Justiça, a comissão criou condições "para tirarmos o futebol brasileiro das mãos de um principado dotado de suas própria regras, de um país dentro do país".

Estiveram presentes à reunião os ex-jogadores Afonsinho, Vladimir, Mirandinha, entre outros. Afonsinho, um dos precursores do passe livre no Brasil, celebrou a abolição da instituição do passe e apontou para a necessidade de a CPI adotar mais algumas sugestões para a moralização do futebol brasileiro, como a democratização das entidades de classe, dos clubes, das confederações e federações. Defendeu ainda que se consagrem as garantias dos chamados clubes formadores, de modo que estes ofereçam de fato as contrapartidas necessárias à formação da cidadania dos jovens atletas. E por fim destacou o que considera ser o maior problema do jogador, o fim de carreira. Afonsinho manifestou sua expectativa de que as propostas apresentadas durante os trabalhos da CPI se convertam em projetos de lei. Já o ex-lateral esquerdo do Corinthians e ex-presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais, Vladimir, se disse preocupado com as medidas provisórias que acompanham a abolição do passe. Segundo ele, é hora de o atleta ter total responsabilidade sobre seus atos. "Se o jogador não a tiver aos 18 anos, não terá também aos 30", concluiu.

O jornalista Juarez Soares disse que a grande indagação diz respeito ao relatório final da CPI: "Depois de ficar atordoado ao ver o abraço de Pelé e Ricardo Teixeira, espero que não tenhamos mais frustrações, aguardo com grande expectativa o desfecho desta CPI." Aldo Rebelo lembrou ao jornalista que os próximos 15 dias serão os mais importantes, pois a CPI ouvirá os principais dirigentes e empresários do futebol brasileiro.

alesp