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OPINIÃO - Padre Afonso Lobato*
23/09/2003 16:14

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A prevalecer o atual quadro ambiental em nosso Vale do Paraíba, teremos em nossas mesas, em breve, um cardápio sugestivo: comeremos areia e beberemos esgoto.

Pode parecer catastrófico, porém merece uma reflexão de todos, independente de suas convicções ideológicas, políticas, religiosas e culturais, uma vez que o sonho de consumo da coletividade ainda não respeita nosso patrimônio ambiental, apesar de esforços isolados de determinados segmentos, principalmente das organizações não-governamentais que representam o que há de mais legítimo em termos de anseio da sociedade organizada. Poderíamos incluir esforços pontuais da Polícia Ambiental, Cetesb, Ibama, Ministério Público e outros organismos vinculados ao exercício do poder de polícia administrativa, tão necessário ao atendimento dos institutos jurídicos em vigor, mas que esbarram em interesses políticos adversos e mascarados sobre a égide de discursos vazios e sem perspectivas de solução.

Nosso maior patrimônio, o Rio Paraíba, nos abençoou com um solo fértil em suas várzeas, cuja vocação não pode ser outra a não ser a produção de alimentos para atendimento, pelo menos, de nossas necessidades básicas, cujo esforço dos nossos produtores rurais merece nosso respeito e gratidão.

O que podemos observar nos causa um misto de tristeza e indignação, pois o quadro de descaso e de irresponsabilidade, apesar da insistência de muitos, só poderá ser alterado na medida em que a população tiver acesso pleno às informações e na medida em que houver um comprometimento formal de nossos administradores no sentido de reverter a situação que é realmente grave.

Na eventual hipótese de não haver uma mudança radical de comprometimento político e institucional com a participação efetiva da comunidade, cientes de que a cada um cabe sua quota de responsabilidade, serviremos em nossas mesas areia, ao invés de arroz, esgoto, ao invés de água, e teremos asfalto, ao invés da sombra e frutas de nossas árvores. O conceito de progresso passa pelo acesso à educação e ao exercício pleno da cidadania!

Entendemos que o caminho deve ser trilhado com muita cautela e sabedoria, mas deixamos claro que deve prevalecer o interesse maior que representa a preservação da dignidade humana e da vida.

Aos políticos e a todos aqueles que não quiserem se esforçar no sentido de dar um basta ao desrespeito praticado com nossos recursos naturais fica o recado: Como alimentaremos as futuras gerações?

*Padre Afonso Lobato é deputado estadual pelo Partido Verde

alesp