Maria Bonomi transforma a arte em manifestação de vida

Emanuel von Lauenstein Massarani
02/04/2003 14:19

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Aproximar-se da obra de um artista é quase sempre uma aventura pois cumpre-se a tentativa de entrar num mundo construído por suas regras e normas. O encontro com a obra de Maria Bonomi nos coloca frente a uma encruzilhada de diversas tendências, forças e expressões. A exemplo da música de Bach sua obra é rigorosamente calculada e matemática.

Um constante empenho, coerente com o rigor do "metiér" e a profundidade da aspiração revelam o seu profundo desejo de alcançar um mais analítico conhecimento de si e de seus próprios meios - freiando com sabedoria a fantasia com o conhecimento - a artista conhece a voz autêntica da poesia.

O conjunto de sua obra possui uma ininterrupta continuidade que revela um desenho único e compacto, desenvolvido em cada um de seus ritmos em modo absolutamente puro onde a personalidade, o tempo e o espaço se sucedem e se mesclam.

O seu traço é evocativo, ela grava como se tivesse um bisturi entre os dedos, sem complacências nem abandono. Assistimos, sobre o fio da inteligência a uma vivisecção, a uma decantação da realidade, a uma sua análise que se transforma de imediato síntese palpitante de uma nova fábula.

Existem em sua obra um sentido e um perfil marcantes, alem de uma tendência para não subvalutar a necessidade de renovação que unidos à segurança plástica se traduz em composições de rara força expressiva.

Alem de válidos fatores formais e poéticos, frente as obras de Maria Bonomi, gravuras, sejam elas xilos ou litos, sejam escultoras, relevos ou murais de concreto, prevalece o sentimento de admiração pela artista que alcançou, desde cedo, bem definida e madura personalidade artística. Assim são as obras: "Naiade" (escultura em alumínio), "Echoes" (xilogravura), "O Louco" (gravura), "Plush", "Jocarta" e "Noturno" (litogravuras) - ofertadas ao Acervo Artístico da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

Grande dama das artes e da cultura, Maria Bonomi trabalha com fervor e constância, temendo os vazios dos tempos inativos, transforma mais arte em manifestação de vida que a vida em manifestação de arte.



A Artista

Maria Bonomi nasceu em Meina, Itália, no ano de 1935, de mãe brasileira e pai italiano; brasileira por opção. Por sugestão de Lasar Segall, inicia-se em pintra com Yolanda Mohalyi (1950) e Karl Plattner (1953), em gravura com Lívio Abramo (1954). Em fins de 1956, bolsista da Ingram Merrill Foudation, trabalhou no Pratt Institute, Nova Iorque, Estado Unidos, com Seong Moy; em 1957 e 1958 na Columbia University, Nova Iorque, com Has Muller e Meyer Schapiro; em 1958, faz o "Museum Training I", Nova Iorque University. No Brasil, em 1960, integra a Oficina de Gravura em Metal no Museu de Arte Moderno do Rio de Janeiro com Johnny Friedlaender e funda o Estúdio Gravura, São Paulo, com Lívio Abramo, onde atuou como assistente até 1964.

Participou de inúmeras exposições particulares e coletivas, no Brasil e no exterior, destacando-se entre elas: Museu de Arte de São Paulo (1952); Bienal Internacional de São Paulo (1955, 1959, 1961, 1963, 1965, 1967 e 1989); "Gravuras e Monografias" - Museu de Arte Moderna - São Paulo (1956); Galeria Roland de Aenlle, Nova Iorque, Estados Unidos (1958); União Pan-Americana - Instituto Smithsonian - Washington, Estados Unidos (1959 e 1960); Bienal Internacional de Gravura - Ljubljana - Iugoslávia (1961, 1963, 1967, 1971, 1973, 1983, 1985, 1989 e 1995); Bienal de Tóquio, Japão (1962, 1972, 1974 e 1988); Bienal Internacional de Arte de Veneza, Itália (1964 e 1972); Museu de Arte Moderna, Cidade de México (1965); Xylon IV Internacional, Genebra, Suíça (1965, 1966, 1969 e 1970); V Bienal de Paris, França (1967); II Bienal Internacional de Gravura - Cracóvia - Polônia (1968); "A Gravura do Mundo" Nuremberg, Alemanha; "Xilografias" - Museu de Arte Moderna - Rio de Janeiro (1971); Trienal da Gravura de Friedrkstaad, Noruega (1972, 1986 e 1989); "Módulos Solombras/M.S.2." - Cosme Velho Art Gallery - São Paulo (1972); "Xilografias (Transamazônica - China)", São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília (1975); II Bienal de Havana, Cuba (1986); "Voyage au Monde du Papier au-Travers des Biennales Brésiliennes" - Grand Palais - Paris, França (1990); "Mostra da Gravura Cidade de Curitiba", Paraná (1990, 1992, 1995 e 1997); "Cidadânia" - 200 anos da Declaração dos Direitos do Homem" - São Paulo (1991 e 1992); Centro Cultural Banco do Brasil (1992); III Studio Internacional de Tecnologias da Imagem - UNESP - São Paulo (1993 e 1996); "Ultramodern - Arte do Brasil Contemporâneo" - Museu Nacional de Mulheres Artistas, Washington, Estados Unidos (1993); Espaço Cultural João Pessoa, Paraíba; Museu de Artes de São Paulo (1993 e 1994); I Bienal da Gravura de São José dos Campos; Fundação Calouste Gulbenkian, Portugal (1994); "The Hanga - Kanegawa Festival Internacional de Gravura" - Yokohama, Japão (1995); IV Bienal de Arte Gráfica, Belgrado, Iugoslávia (1996); "XII Mostra Internacional de Arte Gráfica" - Kagawa, Japão; "XVII Internacional Mini Print" - Cadaqués - Espanha (1997); Gravuras Contemporâneas Brasileiras - Universidade de Dallas, Estados Unidos; III Bienal Barro de América - Maracaibo - Venezuela; Panorama da Arte Brasileira - Cacco Zanchi Kunstgalerij - Aalst, Bélgica e Berlim, Alemanha; Memorial da América Latina - São Paulo; "XI Bienal Ibero-Americana de Arte-Litografia del Fin de Siglo a 200 años de su Invención" - Museu do Palácio de Belas Artes - México (1999).

A artista que recebeu os maiores prêmios nacionais e estrangeiros, têm suas obras nas grandes coleções particulares e oficiais da Europa, Estados Unidos, Japão e Brasil.

alesp