Este é o oitavo ano do PSDB no governo do estado. É hora de avaliá- lo e um bom parâmetro é a Educação. Durante todo esse período, os tucanos mantiveram a mesma equipe à frente deste setor. O grupo teve carta branca para agir e recebeu toda a sustentação do Conselho Estadual de Educação para colocar em prática o seu projeto educacional. Como se saiu? Vamos avaliar! Como critério para analisar o "modo tucano de governar", considerando os seus reflexos no ensino oferecido - ou negado - à população nesses oito anos, tomamos por base algumas das principais políticas colocadas em prática na rede estadual: 1) a reorganização da rede; 2) a municipalização do ensino e 3) a progressão continuada. Todas permeadas pelos compromissos de promover "mudança nos padrões de gestão" e "valorização do magistério". 1. Imposta à população a partir de 95 - houve resistência em todo o estado - a reorganização da rede foi anunciada como um recurso para melhorar o ensino, mas foi o primeiro passo para a municipalização, que em São Paulo começou antes da lei do "fundão". Fecharam-se escolas rurais, provocando abandono dos estudos e aumento das despesas com transporte escolar nos municípios. Na zona urbana, fechou salas, prejudicou o ensino supletivo, contribuiu para aumentar a violência nas escolas e deslocou crianças para estudar longe de suas casas, separando irmãos que estudavam na mesma unidade. 2. Assunto complicado, a municipalização do ensino nunca foi explicada direito para a população, que até hoje pensa que o "fundão" veio para transferir mais recursos aos municípios. O projeto de municipalização do governo fracassou. Sua principal meta, transferir todo o ensino fundamental, a começar das quatro primeiras séries, para os municípios, nunca será concluída nos termos atuais. No Censo Escolar de 2001 a rede estadual ainda tinha 3.550.793 alunos do ensino fundamental, sendo 1.330.036 da 1ª à 4ª série. Dessa forma, a escola pública ficou fragmentada. O Estado mantém uma grande rede que não dialoga com as redes municipais. Há um jogo de empurra com as demandas da população e muita instabilidade e desemprego no seio dos professores. A municipalização também não ampliou o atendimento no ensino público fundamental, como se propaga. Em 1995, a soma dos alunos do ensino fundamental nas redes estadual e municipal era de 5.909.612 (fonte: Seade). Em 2001 esse número caiu para 5.322.560 (fonte: Inep/MEC). Com a municipalização, o estado repassou mais de 1 milhão de alunos para os municípios e vem ficando com cerca de 800 milhões de reais por ano de recursos municipais, via "fundão". Pequena parte desse dinheiro tem sido utilizada para obras escolares nos municípios - com grande alarde por parte do governo. Os municípios ainda têm assumido pesadas despesas com transporte escolar dos alunos da rede estadual - contrariando a lei do "fundão" - e com a merenda escolar, enquanto falta dinheiro para a educação infantil e de adultos. 3. Implantada sem os pré-requisitos necessários, a progressão continuada virou, na opinião de os pais, alunos e professores, mera "promoção automática". Como essas opiniões não contam para os dirigentes da educação, precisou haver quase uma rebelião em todo o estado para que o governo reagisse. Apresentamos na Assembléia Legislativa o Projeto de Lei 428/2001, propondo a suspensão da progressão continuada para uma revisão qualificada e democrática, com a participação da USP, Unesp, Unicamp e entidades representativas do magistério público paulista. Reagindo às pressões, o governo fez uma espécie de confissão de culpa no final de 2001. Passou por cima dos princípios da progressão continuada e das normas por ele mesmo estabelecidas, aplicando de última hora e a revelia das escolas um exame (Saresp) em todos os alunos das antigas 4ª e 8ª séries, cujos resultados definiram quem foi para recuperação - 30% dos alunos não atingiram a nota mínima - e depois os que ficaram reprovados. Ninguém sabe o que vai acontecer em 2002! Foi esse o "padrão de gestão" do ensino público paulista nos oito anos de governo do PSDB. Foi com políticas praticadas dentro desses princípios que eles consideram que valorizaram o magistério. Alguém acredita? Carlinhos Almeida é deputado estadual e líder da Bancada do PT na Assembléia Legislativa de SP.