Opinião - Diplomas e profissionais fajutos


14/02/2013 10:40 | Welson Gasparini*

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Usei da tribuna da Assembleia Legislativa, logo após o reinício dos trabalhos legislativos do atual semestre, para focalizar um tema que tanto me deprime e angustia: a decadência do ensino superior em nosso país. Uma decadência que chegou ao nível de existirem, até mesmo, sites vendendo diplomas falsos de universidades.

Parece incrível, mas esse absurdo lamentavelmente é verdadeiro como constatei lendo reportagem recentemente publicada no jornal "O Estado de São Paulo" na qual a jornalista Natália Oliveira informa o seguinte: "Diplomas falsificados de nível superior estão sendo vendidos livremente pela Internet. A compra pode ser feita por qualquer pessoa; até mesmo por quem nunca cursou uma universidade. Os supostos comerciantes oferecem até certificados da área médica. Um diploma de enfermagem, por exemplo, custa seis mil reais."

Então chegamos, assim, a uma situação verdadeiramente surrealista: o cidadão não precisa, sequer, cursar uma universidade, bastando-lhe apenas a ninharia de R$ 6.000,00 (quase o preço de uma simples mensalidade de algumas de nossas faculdades) para obter um diploma universitário. A jornalista vai além na informação: "em diversos sites falsificadores prometem entregar o diploma de curso superior em até dez dias."

Em dez dias, portanto, o cidadão está com um diploma de nível universitário e o documento entregue e, além do mais, terá um suposto reconhecimento do Ministério da Educação, inclusive sendo oficializado com a publicação no Diário Oficial da União.

No ano passado, esse mesmo "O Estado de S. Paulo" revelou, em reportagem, o fato de professores contratados e registrados na Rede Municipal de Ensino de São Paulo usarem diplomas falsos, com nove casos sendo identificados. Os docentes ainda chegaram a dar aulas por alguns meses e depois foram expulsos após serem submetidos a processos disciplinares da Secretaria da Educação. Não vou falar mais nada sobre isso porque a repulsa é muito grande.

Outro exemplo: mais da metade dos quase 2.500 estudantes de Medicina formados no ano passado não possui condições mínimas para atender a população. E quem diz isso não sou eu; quem fez essa avaliação é o Conselho Regional de Medicina que reprovou 54% dos alunos no exame da entidade no ano passado. O mesmo acontece com os advogados: 82% dos bacharéis em Direito formados no ano passado não podem exercer a profissão porque não foram aprovados no chamado "Exame de Ordem" promovido pela OAB. Médico inabilitado pode, assim, exercer a profissão; advogado não. Coitado é do cidadão comum ao ser atendido por médicos possuidores de diploma mas sem capacitação suficiente para exercer a medicina.

O quadro educacional, enfim, é muito triste porque enseja diplomas e profissionais igualmente fajutos.



*Welson Gasparini é deputado estadual (PSDB), advogado e ex-prefeito de Ribeirão Preto

alesp