Para sindicato do Paraná, Feder priorizou terceirizações e tecnologia enquanto congelou salário de professor
30/11/2022 09:27 | Atividade Parlamentar | Da assessoria do deputado Carlos Giannazi

Walkiria Olegário Mazeto, presidente da APP (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná), foi a convidada de Carlos Giannazi (PSOL) para a live, realizada em 23/11, com o objetivo de prevenir os servidores da Educação sobre o que lhes reserva o próximo ano. Trata-se do empresário Renato Feder, que atualmente ocupa a Secretaria da Educação do Paraná, mas que já aceitou a indicação para assumir a pasta em São Paulo.
"Renato Feder trouxe para Secretaria de Educação o modelo de gestão empresarial, e isso não é só a forma de organizar a secretaria. É ter a perspectiva da educação como uma mercadoria que pode ser valorada e vendida. Ou seja, como o mercado pode se apropriar dos recursos da educação", iniciou Walkiria.
Ela relatou que o grupo que determina as políticas pedagógicas é totalmente centralizado e se resume a três ou quatro pessoas. "A lógica de uma gestão democrática, participativa, em que vários níveis conseguem opinar, isso deixou de existir. A escuta é sempre no sentido de se aperfeiçoar aquilo que eles já elaboraram."
Walkiria explicou que, no mesmo sentido autoritário, a relação com o sindicato foi sempre impositiva. Como o sindicato confrontava a concepção de educação pública apresentada pelo secretário, a partir do segundo ano ele deixou de se sentar à mesa de negociação com as categorias.
Maquiagem
Segundo a sindicalista, Feder prometeu a Ratinho Júnior levar o Paraná ao topo do ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), conquista que será explorada em provável candidatura ao governo federal. Esse objetivo foi conquistado em 2021, mas a partir de artifícios bastante questionáveis.
Um deles foi a criação da Prova Paraná, uma espécie de simulado para o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) realizado a cada três meses. Outro, foi o de concentrar as aulas apenas nas disciplinas de matemática e português, exatamente as que são exigidas na prova nacional, em detrimento das outras matérias. O outro artifício, mais rasteiro, consistiu em camuflar as reprovações e a evasão escolar. As reprovações foram, na prática, proibidas. Uma única avaliação, no final do ano, passou a ser suficiente para substituir todas as outras notas, resultando na aprovação de praticamente todos os estudantes. Já os alunos com frequência insuficiente passaram a ser simplesmente eliminados do sistema.
Favorecimentos
O fatiamento da secretaria e sua entrega para a iniciativa privada começou cedo e pegou carona, inclusive, na pandemia. "No primeiro ano da pandemia, Feder foi a Brasília e conseguiu que o presidente regulamentasse os multicanais, para poder fazer teleaulas através de canais de TV digital. Esse modelo, ele vendeu para vários Estados, porque ele foi um dos primeiros a montar uma estrutura apropriada", contou. Apesar da expertise do secretário, o Paraná não pôde desenvolver seus próprios softwares. Comprou-os de terceiros e tornou-os plataformas de uso obrigatório em várias disciplinas: inglês, matemática, correção de redação, programação, dever de casa, leitura etc. "Agora foi aprovada uma lei determinando que o Estado deverá comprar as licenças dessas plataformas e fornecê-las para todos os municípios paranaenses que queiram aderir ao programa", alertou, questionando a lisura de toda a operação.
Sem professor
Se as plataformas já remetem o professor à condição de coadjuvante na relação ensino-aprendizagem, pior ainda é a "solução" encontrada para o alegado déficit de professores no ensino médio. Trata-se da parceria feita com uma universidade privada para a transmissão de aulas ao vivo referentes às disciplinas específicas de cursos técnicos. Entre os problemas: cada aula seria transmitida para 30 turmas, impedindo, na prática, qualquer tipo de interação; os alunos assistiriam essas aulas em suas escolas; seis aulas em um único dia da semana, todas em sequência. Apesar de a própria secretaria ter considerado o modelo um fracasso, o contrato será mantido por mais dois anos como alternativa para as escolas que não tiverem professor.
Outro projeto que não deu certo foram as escolas cívico-militares. "A ideia era de 400 unidades, mas parou em 195", disse, respondendo à pergunta de Luciene Cavalcante, eleita primeira suplente ao cargo de deputado federal pela federação PSOL/REDE. "A ideia, nessa movimentação conservadora, era de ter os policiais como diretores, mas aquela estrutura toda não funcionou. Boa parte das escolas nem militares tem, porque eles são da reserva e a gratificação não compensa. Agora mudaram a lei na Assembleia Legislativa, reduzindo a função dos militares, e no programa de governo não há previsão de ampliação dessas escolas nos próximos quatro anos."
Quadro de apoio
No início da pandemia, em 29/4/2020, veio a primeira privatização na rede estadual paranaense. As carreiras do quadro de apoio foram postas em regime de extinção e todos os contratos temporários com o Estado foram extintos. Após essa data, a rede foi fatiada em cerca de dez empresas, que são as responsáveis pela contratação de mão de obra. A diferença é que os salários agora são mais baixos, apesar de o investimento público ter aumentado.
No mais recente modelo de privatização, implantado sem licitação ou concorrência em 27 escolas, as empresas privadas encarregadas da gestão terão total autonomia financeira, pedagógica e administrativa. Isso inclui a liberdade de contratar professores temporários sem curso público ou processo seletivo.
"Em São Paulo, os secretários de escola já sofrem com uma situação parecida com o que está acontecendo com o quadro de apoio no Paraná", afirmou Carlos Giannazi. "Eles ficam sem acesso à evolução funcional, ao reenquadramento. O quadro fica quase congelado", lamentou.
O vereador Celso Giannazi, também do PSOL, relatou que na Câmara Paulistana tramita um projeto de lei, espelhado na experiência paranaense, que pretende privatizar a gestão das escolas municipais. "É um projeto imoral, ilegal e inconstitucional sobre todas aspectos. Nós tivemos que brigar muito para construir um parecer contrário a esse projeto na Comissão de Educação. Agora esse projeto vai a Plenário e nós temos que impedir que ele vá adiante", pontuou.
Motivação
Conforme relatou Walkiria, Renato Feder apresentou um estudo segundo o qual a questão salarial seria apenas o quinto motivo de motivação para os professores. Por esse motivo, a categoria ficou seis anos sem recomposição. Mesmo com a atualização do piso nacional do magistério, o reajuste de 33% só foi aplicado à Classe 1. Para as outras classes, a reposição foi de apenas 3%.
A obtenção de qualquer acréscimo salarial fica sujeita a um questionável conceito meritocrático, no qual escolas, professores e dirigentes são punidos ou premiados conforme metas de frequência e notas. "É um horror o assédio que é feito a partir do sistema de monitoramento e de vigilância", disse a professora, explicando que as mesmas plataformas utilizadas como material didático também são um poderoso instrumento de opressão e controle sobre os funcionários.
Notícias relacionadas
- Governo estadual anuncia Escolas Cívico-Militares em cidades indicadas por deputado
- Primeiro de maio é Dia Estadual do Adolescente Quadrangular em São Paulo
- Deputado propõe Programa de Saúde Mental no Trabalho
- Audiência pública denuncia política de desmonte da educação estadual
- Duas escolas da região de Franca vão adotar o modelo Cívico-Militar
- Governo anuncia 18 Escolas Cívicos-Militares em cidades indicadas por deputado
- Deputado que idealizou escola cívico-militar projeta 200 unidades do tipo em SP até 2026
- Deputada recebe título de cidadã honorária de Américo Brasiliense
- Deputado participa de homenagem às vítimas do Genocídio Armênio em São Paulo
Notícias mais lidas
Lista de Deputados
Mesa Diretora
Líderes
Relação de Presidentes
Parlamentares desde 1947
Frentes Parlamentares
Prestação de Contas
Presença em Plenário
Código de Ética
Corregedoria Parlamentar
Perda de Mandato
Veículos do Gabinete
O Trabalho do Deputado
Pesquisa de Proposições
Sobre o Processo Legislativo
Regimento Interno
Questões de Ordem
Processos
Sessões Plenárias
Votações no Plenário
Ordem do Dia
Pauta
Consolidação de Leis
Notificação de Tramitação
Comissões Permanentes
CPIs
Relatórios Anuais
Pesquisa nas Atas das Comissões
O que é uma Comissão
Prêmio Beth Lobo
Prêmio Inezita Barroso
Prêmio Santo Dias
Legislação Estadual
Orçamento
Atos e Decisões
Constituições
Regimento Interno
Coletâneas de Leis
Constituinte Estadual 1988-89
Legislação Eleitoral
Notificação de Alterações