A Assembleia Legislativa promoveu nesta quinta-feira, 19/8, uma homenagem à Bossa Nova, movimento musical brasileiro que teve início no final dos anos 1950, no Rio de Janeiro e que se tornou carro-chefe da divulgação da música brasileira e da nossa cultura em todo o mundo.

O encontro de músicos foi promovido pelo deputado Carlos Giannazi (PSOL)e contou com a apresentação do conjunto The Magical Bossa Band, formado pelos músicos Marcelo de Souza no saxofone, Kalifa no violão, Jair Araújo no violão de sete cordas, Veríssimo Angelo de Souza na percussão, Milton Jones no contrabaixo e Marcos Jones na bateria. O sexteto interpretou clássicos da bossa, como "Água de beber", "Garota de Ipanema" e "Só danço samba", de Tom Jobim, ao divulgar seu trabalho e prestar uma homenagem ao gênero.

Carlos Giannazi, que promoveu o encontro, disse que a música voltará a ser disciplina na grade curricular das escolas de ensino fundamental da rede pública até 2011. A Lei federal 11.769, que obriga a inclusão da disciplina, foi sancionada em 2008. Giannazi, que é professor, lembrou que a disciplina foi eliminada da escola na época do governo militar, o que causou grande prejuízo aos estudantes, privados do aprendizado da iniciação artística e musical e dos benefícios ao desenvolvimento por ela proporcionados.



A Bossa Nova e alguns de seus expoentes



A Bossa Nova surgiu como movimento cultural e musical no Brasil do final da década de 1950. O movimento, diretamente impulsionado pela crescente urbanização e pelo desenvolvimento da era JK, tem na música sua maior representação. Influenciados pela cultura norte-americana, artistas como João Gilberto, Antonio Carlos Jobim, Roberto Menescal e Carlos Lyra, entre outros, deram ao samba-canção uma nova forma de tocar e cantar, com arranjos que incorporaram a sofisticação do jazz e da moderna música. Mais tarde, na década de 1960, a Bossa Nova já influenciava músicos norte-americanos, como Herbie Mann e Stan Getz.



João Gilberto, baiano de Juazeiro, ganhou um violão aos 14 anos. Depois de se mudar para Salvador, aos 18 anos, e para o Rio de Janeiro, aos 19, conheceu Tom Jobim. Em 1958 lançou seu primeiro LP, Chega de saudade, e marcou o início oficial do movimento da Bossa Nova. João Gilberto eternizou com seu estilo clássicos como "Chega de saudade", "Meditação" e "Desafinado", e teve mais de 30 discos gravados. A última de suas raras turnês foi em São Paulo, no auditório Ibirapuera, cujos ingressos se esgotaram em uma hora.



Antonio Carlos Jobim (1927-1994), maestro carioca criado em Ipanema, é autor de "Garota de ipanema", "Chega de saudade", "Desafinado" e "Meditação", entre tantas outras composições. Chegou a cursar o primeiro ano do curso de arquitetura, mas acabou desistindo para se dedicar ao piano. Tocava em bares e boates em Copacabana, como no Beco das Garrafas, no início dos anos 1950. Compositor de uma longa lista de clássicos da MPB e da Bossa Nova, foi parceiro de Newton Mendonça, Billy Blanco, Vinícius de Moraes, Aloysio de Oliveira, Edu Lobo, Chico Buarque, entre outros, e suas músicas foram gravadas por cantores de peso como Elis Regina e Frank Sinatra.



Carlos Lyra, cantor, compositor e violonista brasileiro, é autor de ícones da Bossa Nova como as canções "Influência do jazz", "Feio não é bonito", "Minha namorada", "Lobo bobo" e "Primavera". De 1964 a 1971, e depois de 1974 a 1978, pressionado pela perseguição do governo autoritário a artistas e intelectuais, e com um disco censurado (Herói do medo), autoexilou-se nos Estados Unidos. Tem mais de 20 discos gravados e lançou em 2005, com Roberto Menescal, o documentário Coisa mais linda, sobre a Bossa Nova. Foi casado com a atriz e roteirista Kate Lyra.



Roberto Menescal participava das reuniões no apartamento da cantora Nara Leão, na Avenida Atlântica, em Copacabana, onde o movimento da Bossa Nova começou. Menescal criou canções que hoje são consideradas hinos do movimento e da própria música popular, como "O barquinho", "Você, nós e o mar" e "Ah, se eu pudesse". Além de músico, é produtor musical. Compôs, em parceria com Chico Buarque a trilha sonora dos filmes Joana francesa e Bye bye Brasil, ambos de Cacá Diegues.



Vinícius de Moraes (1913 " 1980) foi diplomata, jornalista, dramaturgo, poeta e cantor. Poeta essencialmente lírico, notabilizou-se pelos seus sonetos. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e apreciador do uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador. O poetinha casou-se nove vezes ao longo de sua vida. Foi parceiro de Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque e Carlos Lyra. Aposentado compulsoriamente da carreira diplomática pelo Ato Institucional 5, em 1968, foi anistiado e reintegrado à carreira postumamente, em 1998. Sua peça mais famosa é Orfeu da Conceição. Na última segunda-feira, 16/8, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promoveu Vinícius de Moraes ao cargo de embaixador pós-morte, em cerimônia com parentes e amigos do poeta e diplomata.



Nara Leão (1942 - 1989), cantora, jornalista e violonista, ficou conhecida como a musa da Bossa Nova. Das reuniões musicais em seu apartamento em Copacabana nasceram várias canções. Também aderiu ao tropicalismo e teve uma postura mais politizada na MPB ao participar do show Opinião, em 1964. Intérprete da música A banda, de Chico Buarque, vencedora do Festival da Canção de1966, gravou diversos discos, no último dos quais, "My foollish heart", Nara cantou músicas populares americanas.



Os Cariocas, conjunto musical criado em 1942 por Ismael Neto, com Severino Filho, Emanuel Furtado, o Badeco, Waldir Viviani e Jorge Quartarone, o Quartera. Sua marca foram os vocais elaborados numa interpretação jazzística da música brasileira. Entraram na Bossa Nova em 1962, no show "O encontro", com Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto, Milton Banana e Otávio Bailly. O grupo se desfez em 1967 e se reencontrou 20 anos depois. Ficou eternizada em suas vozes "Valsa de uma cidade", de Ismael Neto e Antonio Maria, e "Sinfonia do Rio de Janeiro", de Tom Jobim e Billy Blanco, entre outras. A última formação foi com Severino Filho, Hernane Castro, Neil Carlos Teixeira e Elói Vicente. Gravaram 37 discos