Profissionais da Educação, representantes de classe e estudantes se reuniram nesta quarta-feira (17) em uma Audiência Pública na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. O objetivo foi debater a recente reestruturação no ensino público iniciada pelo Governo do Estado. No evento, coordenado pelo deputado Carlos Giannazi (PSOL), os participantes criticaram o fechamento de salas de aula e apontaram os prejuízos que a medida pode acarretar, como superlotação, deficiência no aprendizado, sobrecarga para os professores e incentivo à evasão. Colocada em prática no início deste mês, a reestruturação deve fechar cerca de 300 classes em diversos municípios. A Secretaria da Educação, por sua vez, informa que os alunos envolvidos não serão transferidos de escola e nem mesmo de turnos. Para os críticos, isso representa o primeiro passo para a redução do Orçamento da Educação, de 30% para 25%. "Esse é um projeto do governador Tarcísio [de Freitas] de enxugar as escolas. Com isso, ele pretende reduzir o Orçamento da Educação em até R$ 10 bilhões por ano, sendo que o total hoje é de quase R$ 50 bilhões. Isso é um crime contra os nossos alunos e professores", afirmou Giannazi. "Já acionei o Ministério Público Estadual, o Tribunal de Contas, pedi a convocação do secretário [Renato Feder] pela Comissão de Educação da Alesp e até enviei o caso à Unicef", disse ele, mencionando o Fundo das Nações Unidas para a Infância. Ainda de acordo com o parlamentar, sua atuação na Casa é justamente a de ser contra a superlotação das salas e a precarização do ensino e da atuação dos professores da rede pública. "A superlotação, com até 45 alunos nas salas, dificulta o trabalho do professor e o aprendizado dos estudantes, além de deixar muitos profissionais desempregados. Um absurdo", apontou Giannazi. Violência nas escolas Entre os presentes à Audiência Pública esteve o professor de Filosofia Wagner Rogério, de Itaquaquecetuba. Ele apontou que, além de todos os problemas mencionados, unir salas diferentes e torná-las ambientes superlotados é um processo que potencializa um problema que vem chocando a sociedade: a violência nas escolas. "As escolas estão em alerta em função dos acontecimentos recentes ligados à violência. Então, como você cria esse desconforto ainda maior dentro das salas de aula? Temos registrado cada vez mais brigas nas escolas, ambientes de tensão. A superlotação também gera situações de discriminação, racismo e homofobia", alertou o professor. Evasão Tereza Ferro, professora de Ensino Médio na rede pública em Jundiaí, participou do evento para dar o seu testemunho sobre o que passou recentemente. "Os alunos foram pegos de surpresa com o fechamento das salas. Temos muitos jovens que não vão se formar porque essa medida desestimulou a sua permanência na escola", lamentou. "Sem contar os problemas de estrutura. Nos dias de calor, tudo fica ainda mais quente e muitos alunos passam mal. As salas não são grandes o suficiente", acrescentou. Papel do Legislativo O professor Wagner Rogério fez questão de pedir um posicionamento assertivo dos representantes da Casa em relação ao assunto. "Precisamos que a Alesp se posicione e vá até as Diretorias de Ensino, que procure o secretário da Educação do Estado para saber que projeto é esse que ele quer implantar nas escolas, se há um mapeamento para justificar essa reestruturação. Por que esperar o ano começar para fazer essas mudanças? Pegou todos desprevenidos. Que a ação dos parlamentares não fique apenas nessa Audiência Pública, mas que o Legislativo saia para ouvir os alunos, professores e a comunidade", sugeriu.