No final do mês passado, em matéria publicada pela Folha de São Paulo, o ministro da Educação Abraham Weintraub declarou que o governo federal prepara um modelo de universidade e institutos federais digitais. A entrevista coletiva foi convocada à ocasião para o anúncio de liberação de R$ 60 milhões para a instalação de infraestrutura de conexão de internet em escolas rurais. Impulsionado pelo desejo do governo federal em apostar na expansão do ensino à distância nas universidades, como declarado em agosto passado, a Assembleia Legislativa recebeu nesta quarta-feira (4/9) um seminário para discutir o ensino EAD. "A educação à distância virou hoje no Brasil uma farra. Não há controle nenhum e os mercadores da educação e as principais faculdades privadas do país estão usando esse mecanismo " que deveria ser usado de um modo complementar " como principal instrumento de educação", declarou o deputado Carlos Giannazi (PSOL), que comandou o seminário na última noite. Segundo dados da Sinopse Estatística da Educação Superior de 2017 do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) as universidades federais já adotam o ensino a distância, mas em menor extensão. Em 2017, registrou-se 101.395 alunos na modalidade, o que representa 8% do total de matrículas. "O EAD está sendo usado pela iniciativa privada com o único objetivo de ter mais lucros e isso com a conivência do Conselho Nacional de Educação e do Ministério da Educação. É preciso que haja um maior rigor na fiscalização desses cursos à distância, mas também no uso das disciplinas à distância e de parte à distância", corroborou com o parlamentar o presidente da Fepesp, Federação dos Professores do Estado de São Paulo, Celso Napolitano. A favor do ensino à distância estão a flexibilidade de horários, menor custo, certificado com o mesmo valor do curso presencial, além de bolsas de estudo. Porém, segundo alguns especialistas da área da educação, para que o curso seja efetivo é preciso mais organização e planejamento do estudante, o que nem sempre acontece, além de não ter a figura do professor nas aulas presenciais, apenas online. "Essa expansão movida pelos fundos de investimento faz com que os polos se espalhem rápido pelo país e hoje, a rigor, creio que pelo Brasil os educadores que estão pensando na cultura e na ciência devem fazer um balanço crítico sobre o que está acontecendo uma vez que a maior parte dos professores será formado por meio de curso à distância", questionou Roberto Leher, ex-reitor da UFRJ. Durante o seminário duas mesas redondas permearam as discussões sobre o EAD: uma com o olhar de professores e alunos e outra sobre a ótica da defensoria pública e dos conselhos de classe. Para Guilherme Bianco, diretor de extensão universitária da UNE (União Nacional dos Estudantes) é preciso entender a qualidade desse tipo de ensino. "Uma série de universidades tem apostila nacionalizada, sem especificidades dos cursos, não há relação com o professor. Temos que garantir a qualidade do professor e que o estudante possa escolher quais disciplinas quer fazer em EAD". O presidente do Conselho de Farmácia de São Paulo, Marcos Machado, não acredita que os cursos de saúde sejam compatíveis com ensino à distância. "É preciso encontrar uma solução para esta questão. Não é possível permitir que se tenha esse tipo de ensino nos cursos voltados para a área de saúde, é preciso equilibrar", finalizou.